Quem acompanha a carreira do cineasta americano Spike Jonze costuma associar seu nome a projetos esquisitos. Ele começou dirigindo videoclipes do R.E.M., dos Beastie Boys e da Björk. Depois, estreou em longas com Quero Ser John Malkovich. Na seqüência, fez Adaptação e Onde Vivem os Monstros. Tudo isso, de certa forma, foi preparação para Ela, que ele escreveu e dirigiu em 2013. A premissa pode até parecer absurda: um homem que se apaixona por um sistema operacional. Mas, pode acreditar, neste caso, as aparências enganam. E muito. A história se passa na cidade de Los Angeles, em um futuro próximo. Theodore (Joaquin Phoenix) trabalha escrevendo cartas pessoais sob encomenda. Ele ainda se recupera do fim de um relacionamento. Certo dia, ele instala um novo sistema operacional em seu computador. O aviso diz que o programa é revolucionário. Theodore opta por uma voz feminina e “conhece” então Samantha (Scarlett Johansson). Um dos muitos acertos do roteiro e da direção diz respeito ao comportamento social de Theodore. Ele é um cara legal, totalmente “do bem” que tem amigos no trabalho e no prédio onde mora. Não faz o tipo recluso e anti-social. Jonze consegue criar uma sensação de realidade tão forte que nos leva a acreditar naquele mundo fazendo um uso inteligente e orgânico dos cenários, figurinos e objetos de cena. Mas, Ela não seria a obra-prima que é se não fosse a interpretação arrasadora de Joaquin Phoenix e a voz carregada de calor e encantamento de Scarlett Johansson. O filme, merecidamente, ganhou o Oscar de melhor roteiro original em 2014.