O tempo é realmente o senhor da razão. Quando Alfred Hitchcock lançou Um Corpo Que Cai, em 1958, foi massacrado pela crítica e pelo público. O filme se tornou na época o maior fracasso de sua vitoriosa carreira. Ao longo dos anos seguintes, no entanto, ele foi adquirindo respeito e admiração e hoje é considerado por muitos a obra máxima do diretor. A história se passa em São Francisco, na Califórnia. Scottie Ferguson (James Stewart) é um detetive de polícia que sofre de vertigem (medo de altura), daí o título original Vertigo. Já no início da história, um acidente termina por provocar sua aposentadoria. Tempos depois, ele é contratado por um ex-colega de faculdade, Gavin Elster (Tom Helmore), que o contrata para seguir sua esposa, Madeleine (Kim Novak), segundo ele, uma mulher com tendências suicidas e algumas outras perturbações. É melhor eu parar por aqui. Se não, corro o risco de estragar muitas das surpresas e reviravoltas deste clássico do suspense psicológico. O roteiro, de Alec Coppel e Samuel A. Talyor, é inspirado no livro D’Entre Les Morts, escrito por Pierre Boileau e Thomas Narcejac. A história tem elementos sobrenaturais que seriam, seguramente, explorados como tal por muitos outros diretores. Não é o que acontece aqui. Hitchcock não acreditava no sobrenatural. Ele explora em Um Corpo Que Cai algo bem humano, a obsessão. Isso fica bem marcado na personagem de Scottie e James Stewart nos convence completamente disso. Outro grande destaque do elenco é Kim Novak, uma atriz belíssima e que talvez por isso, nunca foi levada a sério. Seu desempenho não deixa dúvidas do quanto ela foi subestimada. Enfim, tudo em Um Corpo Que Cai é perfeito. Elenco, roteiro, fotografia, trilha sonora (mais um momento inspirado de Bernard Herrmann), montagem e direção. A versão disponível em DVD é a restaurada e remasterizada e conta com um excelente documentário sobre o processo de restauração desta obra-prima. Em tempo: em Portugal, o filme recebeu o título de A Mulher Que Viveu Duas Vezes. E isso não é piada.