Imagine que você é um diretor de cinema. O que você faria se fosse convidado para refilmar um clássico absoluto que faz parte da memória afetiva de meio mundo? O cineasta brasileiro José Padilha, consagrado mundialmente com o sucesso de Ônibus 174, Tropa de Elite, Garapa e Tropa de Elite 2 foi além. Procurado pela Sony para dirigir outro projeto em Hollywood, ao invés de aceitar o convite, Padilha disse que adoraria refilmar RoboCop – Policial do Futuro, dirigido em 1987 pelo holandês Paul Verhoeven. A proposta agradou os executivos do estúdio e a produção teve início. Antes mesmo de começar as filmagens, Padilha enfrentou a patrulha dos puristas que não viam necessidade na refilmagem. Apesar das pressões, ele recebeu um bom orçamento, na casa dos 100 milhões de dólares e conseguiu levar sua equipe técnica de fotografia e montagem para trabalhar com ele. A história é essencialmente a mesma do filme original. Alex Murphy (Joel Kinnaman) é um policial honesto de Detroit. Ele sofre um atentado e tem o que sobrou de seu corpo colocado dentro de uma armadura. Nasce então o “tira total”, o RoboCop. Padilha foi inteligente ao evitar fazer uma cópia atualizada do filme de Verhoeven. Ao invés disso, ele nos apresenta a sua visão pessoal do herói. Paralelo a isso, existe um subtexto político que questiona a mania americana de atuar como “xerife do mundo”. Não é justo fazer aqui uma comparação entre esta versão de 2014 e a de 1987. As realidades são bem diferentes. Mas, é correto dizer que Padilha honra o legado de Verhoeven. E isso não é pouco.