Em 1971, Ensina-me a Viver, um filme sem muita pretensão que mostrava a amizade entre uma velha cheia de vida e um jovem deprimido e suicida caiu no gosto de meio mundo. Guardadas as devidas proporções, O Bom Coração, escrito e dirigido pelo islandês Dagur Kári, talvez seja a versão anos 2000 daquele filme. O diretor chamou a atenção com seu longa de estreia, Nói, O Albino, de 2003. A trama gira em torno de Jacques (Brian Cox), dono de um bar em Nova York e que tem como objetivo fumar e beber até morrer. Ele termina conhecendo Lucas (Paul Dano), um jovem que mora nas ruas e que tentou o suicídio. Com o intento de deixar o bar para que alguém cuide dele, Jacques meio que adota Lucas e o torna seu herdeiro. A partir daí, ele decide ensinar a ele tudo que sabe sobre o bar e suas regras. Kári, hoje radicado na França, voltou à sua terra natal para este trabalho. Apesar de a história se passar em Nova York, tudo foi filmado na Islândia. Brian Cox dispensa apresentação e mantém o nível de suas interpretações. Paul Dano se destaca outra vez como um dos melhores atores de sua geração. O Bom Coração mistura momentos engraçados com passagens mais dramáticas. Porém, o diretor não perde o foco e nos conduz por uma história que pode até parecer piegas e boba. Na verdade, o filme pede apenas que nós embarquemos nessa viagem. E, como toda boa viagem, nem sempre o ponto final é o que mais importa. O que fica de marcante, aquilo que nos transforma mesmo, é o percurso.