Em 45 anos de carreira, a cineasta belga Chantal Akerman construiu uma sólida filmografia composta por quase 50 trabalhos entre curtas e longas. Sua obra mais famosa é Jeanne Dielman, escrita e dirigida por ela em 1975, quando tinha apenas 25 anos. Ele foi eleito pela Sight and Sound, do British Film Institute, o melhor filme de todos os tempos. A revista realiza essa pesquisa a cada dez anos com mais de 800 críticos de cinema do mundo todo. O papel-título, vivido pela atriz Delphine Seyrig, é uma mulher jovem e viúva que mora com o filho adolescente. A câmera mostra sua rotina enfadonha nos mínimos detalhes, ao longo de três dias, cuidando da casa enquanto o filho está na escola, e até se prostituindo de vez em quando. A longa duração de mais de três horas reforça o cotidiano de Jeanne e a lente de Akerman esmiuça isso de forma brilhante. A diretora disse em entrevistas que a principal inspiração para a criação de sua personagem veio de sua própria mãe, uma sobrevivente do holocausto nazista. Desde sua estreia na direção, em 1971, Chantal Akerman é considerada uma das mais importantes vozes femininas da História do Cinema e Jeanne Dielman é respeitado como um dos mais influentes e marcantes filmes com essa temática e abordagem. Inclusive, é a grande referência de cineastas como Todd Haynes, Michael Haneke, Sofia Coppola e Gus Van Sant. Em tempo: o filme tem poucos cortes; foi rodado em apenas cinco semanas; não tem trilha sonora (o som que ouvimos é diegético, ou seja, é ouvido pelas personagens em cena); e toda a equipe técnica é formada apenas por mulheres.

JEANNE DIELMAN (Jeanne Dielman 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles – Bélgica/França 1975). Direção: Chantal Akerman. Elenco: Delphine Seyrig, Jan Decorte, Henri Storck, Jacques Doniol-Valcroze e Yves Bical. Duração: 202 minutos. Distribuição: Obras-Primas do Cinema.