O documentário Fico Te Devendo Uma Carta Sobre o Brasil, de 2019, não foi a primeira incursão da roteirista, produtora e diretora Carol Benjamin pelo passado de sua família. Dois anos antes ela havia realizado Iramaya, sobre sua avó, que fundou o CBA (Comitê Brasileiro pela Anistia) e lutou pela libertação de seus dois filhos, Cid e César, presos e torturados pela ditadura militar. Ele funciona como uma espécie de introdução ao que vemos no filme seguinte, que se debruça sobre a busca de uma filha, a própria Carol, por seu pai, César Benjamin, preso quando tinha apenas 17 anos e mantido numa solitária por cinco anos. A partir das cartas que Iramaya trocou com Marianne Eyre, da Anistia Internacional em Estocolmo, na Suécia, a diretora reconstrói a luta da avó para libertar os filhos e vai além. Na verdade, sua obra é muito mais abrangente, já que ao mergulhar no passado de sua família ela revela um triste e apavorante momento de nosso país. O silêncio de seu pai em falar sobre aquele período em que ficou preso a fez procurar por respostas e elas agora estão neste tocante documento visual. A certa altura, em uma das muitas cartas que escreveu para Marianne, Iramaya menciona no final a frase que dá título ao filme. Ela pode até ter deixado de falar sobre o Brasil, mas sua neta, Carol Benjamin, com este importante resgate, nos traz uma impactante carta sobre nossa história recente e deixa um contundente alerta para que isso não se repita jamais.
FICO TE DEVENDO UMA CARTA SOBRE O BRASIL (Brasil 2019). Direção: Carol Benjamin. Documentário. Duração: 88 minutos. Distribuição: Bretz Filmes/Globoplay.