O mineiro Marcos Pimentel tem realizado documentários abordando temas os mais diversos. Em comum, o impacto dos relatos que faz, sempre de maneira contundente e original. Não é diferente em Amanhã, que ele finalizou em 2023. Trata-se, na verdade, de um projeto desenvolvido ao longo de 20 anos. O início ocorreu em 2002, quando Pimentel, acompanhado de um equipe minúscula, nos apresenta duas crianças, Júlia e Zé Tomás, jogando videogame. Logo depois, Zé Tomás, um menino branco de classe média alta, aparece brincando com Júlia e seu irmão Cristian, ambos negros e moradores de uma favela. Vemos essas crianças convivendo de maneira lúdica e inocente. Duas décadas depois as reencontramos, ou quase todas elas, mas dessa vez aquela inocência se perdeu em meio às muitas diferenças que uma sociedade segregadora impõe por conta da cor da pele, da condição financeira, situação social e nível educacional. Em 2022, as vidas de Júlia, Cristian e Zé Tomás tomaram rumos distintos. É curioso perceber que há nos irmãos um olhar carinhoso para o passado que tiveram. À medida que eles veem o material gravado quando eram crianças, apesar das muitas dificuldades que enfrentavam, se dão conta, emocionados, que eram felizes e sonhavam com futuras realizações. O contraste com a situação que vivem no presente é gritante e a câmara captura essa difícil constatação. Amanhã deixa evidente que um país só crescerá efetivamente quando houver uma distribuição mais justa de suas riquezas, reduzindo assim o profundo desequilíbrio social existente.
AMANHÃ (Brasil 2023). Direção: Marcos Pimentel. Documentário. Duração: 106 minutos. Distribuição: Descoloniza Filmes.