O cineasta americano Robert Altman já havia provado seu talento como diretor de filmes que envolviam diversas tramas e personagens. Basta ver M.A.S.H., de 1970, e Nashville, de 1975. Porém, foi a partir do sucesso de O Jogador, de 1992, que ele se tornou uma espécie de “queridinho” dos atores, a exemplo do que já acontecia e ainda acontece com Woody Allen. Todo mundo queria participar de um filme de Altman. Nem que fosse em um papel minúsculo. Nem que fosse pelo valor mínimo da tabela do sindicato. Nem que fosse de graça. Quando ele anunciou que adaptaria oito contos de Raymond Carver e os juntaria em um filme, foi procurado por dezenas de atores e atrizes que imploraram para fazer parte do projeto. Nascia aí Short Cuts: Cenas da Vida, uma colagem, ou melhor, um grande painel de Los Angeles e alguns de seus habitantes. O cotidiano de cerca de vinte personagens é acompanhado por uma câmara que não deixa escapar nenhum detalhe. Os dramas apresentados, em um primeiro momento, parecem estar separados uns dos outros. Aos poucos, as histórias começam a se misturar e compõem um mosaico multifacetado do ser humano e suas contradições. A longa duração de pouco mais de três horas, que passa sem que seja sentida, reforça ainda mais o talento de Altman como narrador. O resultado é uma obra complexa e envolvente que nos permite deslumbrar muitos mundos ao mesmo tempo. Short Cuts ganhou o Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza de 1993.