O universo retratado nas tramas criadas pelo autor de quadrinhos e escritor Lourenço Mutarelli é bastante peculiar. Quem, além dele, escreveria uma história intitulada O Cheiro do Ralo? A ação tem lugar em uma loja que compra e vende objetos usados. O dono do pedaço, Lourenço, personagem de Selton Mello, tem uma relação perversa com seus clientes. Ele aproveita o momento frio da negociação, quando as pessoas estão fragilizadas por conta de algum problema financeiro e sente prazer em explorá-las. Ele não faz distinção entre as pessoas e seus objetos. Para Lourenço, tudo e todos têm um preço. Só existe uma coisa que tira ele de seu mundinho controlado: o fedor que vem do ralo da loja. Paralelo a isso, ele fica obcecado pela bunda da garçonete do bar que ele costuma frequentar. O diretor Heitor Dhalia adaptou com fidelidade o livro de Mutarelli em parceria com Marçal Aquino. O filme consegue recriar em imagens um mundo cheio de personagens estranhas, curiosas e únicas. A direção e a montagem ágeis permitem um desencadear de cenas que deixam o espectador completamente envolvido. E Selton Mello, perfeito na composição de Lourenço, encontra o ponto certo ao dar vida a uma personagem aparentemente tão asquerosa, porém, carregada de enorme empatia por conta de sua interpretação. Uma curiosidade: o próprio Lourenço Mutarelli faz uma ponta no filme como segurança da loja.