O cineasta nova-iorquino Woody Allen é um dos poucos diretores do cinema contemporâneo que dirige um filme todo ano. E vem mantendo esse ritmo há 40 anos. Manhattan, sua obra de 1979, é um divisor de águas em sua filmografia. Ou melhor dizendo, é um trabalho de transição. Ao longo dos anos 1970, Allen se notabilizou pelas comédias que escreveu e/ou dirigiu. Aqui, ele experimenta uma estrutura diferente da habitual. O humor, meio que involuntário, ainda está presente, porém, traz junto uma carga dramática mais acentuada e um olhar crítico de extrema acidez. Primeiro filme de Allen rodado em preto e branco, belissimamente fotografado por Gordon Willis, Manhattan trata de relacionamentos e tem como subtexto a alienação urbana em uma grande cidade. Isaac Davis (Allen), vive na ilha que dá nome ao filme. Ele odeia o emprego que tem; namora Tracy (Mariel Hemingway), uma garota de 17 anos; sua ex-mulher, Jill (Meryl Streep), está escrevendo um livro onde revelará segredos do casamento dos dois e, para complicar ainda mais tudo, ele se apaixona perdidamente por Mary (Diane Keaton), que é amante de Yale (Michael Murphy), seu melhor amigo. A influência do cineasta sueco Ingmar Bergman é bem evidente. Allen nunca negou isso. O filme dividiu opiniões: muitos consideram ser uma obra-prima, outros não dão tanto valor assim. Como generalizações costumam ser perigosas, o mais prudente é aceitar Manhattan pelo que ele é: um filme que revela um artista em busca de novos caminhos para sua arte e que não tem medo de arriscar. E de quebra, ainda tem Rhapsody in Blue, de George Gershwin, na trilha sonora.

MANHATTAN (Manhattan – EUA 1979). Direção: Woody Allen. Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Michael Murphy, Mariel Hemingway, Meryl Streep, Anne Byrne Hoffman, Karen Ludwig, Michael O’Donoghue e Victor Truro. Duração: 96 minutos. Distribuição: Fox.