Quentin Tarantino já estava estabelecido na indústria. Tinha dois roteiros vendidos e produzidos (Amor à Queima Roupa e Assassinos Por Natureza); dois filmes escritos e dirigidos por ele (Cães de Aluguel e Pulp Fiction) e um Oscar na prateleira (pelo roteiro de Pulp Fiction). Habituado a dirigir material próprio, quando da produção de seu terceiro filme, Jackie Brown, Tarantino resolveu adaptar uma história escrita por outro, no caso, Elmore Leonard, famoso autor de intricadas e originais tramas policiais. Jackie Brown (Pam Grier) é uma aeromoça que trabalha para uma companhia aérea mexicana. Ela ganha um “extra” transportando dinheiro para um traficante de armas, Ordell Robbie (Samuel L. Jackson). O esquema funciona como um relógio, até o dia em que ela é abordada pelo policial Ray Nicolette (Michael Keaton) e termina fazendo um acordo para ajudar na captura de Ordell. Como em toda obra de Elmore Leonard, temos aqui uma grande e variada gama de personagens, que, aos poucos têm vidas cruzadas umas com as outras. Tarantino consegue, ao mesmo tempo, ser fiel ao próprio estilo e ao espírito do material original, o que, nesse caso, não foi uma tarefa tão difícil. Afinal, quem conhece os trabalhos do diretor e do escritor sabe que as obras de ambos têm mais pontos convergentes do que divergentes. A exemplo do que havia feito em Pulp Fiction, quando resgatou o ator John Travolta do limbo, em Jackie Brown ele coloca em cena a atriz Pam Grier, que havia feito muitos filmes de ação nos anos 1970 e estava esquecida. Preste atenção na personagem de Robert De Niro. Ele fala pouco e sempre cumpre tudo o que diz. Uma curiosidade: Michael Keaton interpretou Ray Nicolette neste filme e reprisou o mesmo papel em uma outra adaptação de Elmore Leonard, Irresistível Paixão, dirigido por Steven Soderbergh no ano seguinte.