Em 1947, ano em que completou 20 anos de carreira, o grande mestre japonês Yasujiro Ozu já havia dirigido 35 longas e cinco curtas. Uma média invejável para qualquer cineasta em qualquer época. Foi neste ano que ele realizou o tocante Relato de Um Proprietário, a partir de um roteiro seu, escrito junto com Tadao Ikeda. Tudo começa quando Tashiro (Chishu Ryu) encontra o menino Kohei (Hohi Aoki), abandonado nas ruínas de um vilarejo. Ele o leva até sua casa e pede ajuda aos vizinhos. Meio a contragosto, Otane (Choko Iida), aceita cuidar do garoto. Esse sentimento muda pouco tempo depois quando Kohei desaparece. O cinema de Ozu é feito de sutileza, poesia e suavidade na forma com que conta suas histórias. Não há pressa alguma aqui. E nem precisa. Seja a partir do ponto de vista da câmara e seus enquadramentos, seja na montagem orgânica e delicada das cenas, tudo em Ozu leva a um sublime encantamento, sem nunca esquecer de nos fazer refletir sobre a condição humana. Parece muita coisa para apenas 71 minutos de duração. Mas, pode acreditar, o poder de síntese de Ozu é assombroso.
RELATO DE UM PROPRIETÁRIO (Nagaya Shinshiroku – Japão 1947). Direção: Yasujiro Ozu. Elenco: Chishu Ryu, Hohi Aoki, Choko Iida, Eitaro Ozawa, Mitsuko Yoshikawa, Reikichi Kawamura, Takeshi Sakamoto e Taiji Toniyama. Duração: 71 minutos. Distribuição: Versátil.