Existe uma máxima que diz: fala da tua aldeia e falarás do mundo. Essa frase se aplica com perfeição ao filme O Espelho, quarto longa-metragem do cineasta russo Andrei Tarkovski. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, junto com Aleksandr Misharin, é autobiográfico. A história gira em torno de um homem que está morrendo e se recorda de sua infância durante a Segunda Guerra Mundial, de sua adolescência e da separação dos pais. O mais interessante é a maneira como Tarkovski mistura esses elementos pessoais com a História de seu país. Ao misturar imagens de arquivo com as lembranças da personagem principal, o diretor consegue uma harmonia inspirada, inusitada e surpreendente. Os filmes de Tarkovski são obras introspectivas e que olham para dentro da alma. E nesse quesito, O Espelho talvez seja seu filme que mais olha para dentro. Tarkovski parece querer abarcar um mundo de emoções e questionamentos éticos e morais. Complexo e profundo, o filme ainda permite ao diretor um acerto de contas com seu passado e, de quebra, termina com uma bela homenagem ao seu próprio pai, o poeta Arseni Tarkovski, ao encerrar o filme com alguns de seus poemas.