A carreira do pintor e cineasta americano Julian Schnabel tem sido das mais singulares. Na pintura, ele faz parte do movimento conhecido como neoexpressionismo e tem obras expostas em importantes galerias pelo mundo. No cinema, sua obra rompeu fronteiras e o levou a países como Estados Unidos, Cuba, Alemanha e França. Sua estreia atrás das câmaras aconteceu em 1996 com o filme Basquiat – Traços de Uma Vida. Schnabel gosta de histórias reais, estejam elas onde estiverem e não é diferente com O Escafandro e a Borboleta. Baseado no drama vivido pelo editor da revista Elle, Jean-Dominique Bauby, que sofreu repentinamente um derrame devastador e ficou inteiramente paralisado. A única exceção era seu olho esquerdo, que ele passou a usar para se comunicar: uma piscada significava “sim”, duas “não”. O próprio Bauby ditou um livro para sua enfermeira, que foi adaptado pelo roteirista Ronald Harwood. O ator francês Mathieu Amalric interpreta Bauby de maneira sublime. A câmara de Schnabel escapa dos clichês comuns nessas histórias de superação ao nos mostrar tudo pelo ponto-de-vista de Bauby, ou seja, vemos o mundo do jeito que ele o vê: através de seu olho esquerdo. O recurso, no início, causa um pouco de desconforto, mas, é fundamental para o entendimento da situação vivida pela personagem. O Escafandro e a Borboleta ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes e recebeu quatro indicações ao Oscar (fotografia, montagem, roteiro adaptado e direção).
O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (Le Scaphandre et le Papillon – França/EUA 2007). Direção: Julian Schnabel. Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Anne Consigny, Patrick Chesnais, Niels Arestrup, Olatz López Garmendia, Jean-Pierre Cassel, Marina Hands e Max von Sydow. Duração: 112 minutos. Distribuição: Europa Filmes.
Respostas de 2
A sequencia do filho [Mathieu Amalric] aparando a barba do pai [Max von Sydow] enquanto conversam sobre as circunstâncias de suas vidas é extraordinária. Repete-se quando o pai procura falar com o filho, através do telefone. Estas duas sequências já demonstram a maturidade de Julian Schnabel. Só um coração de pedra não se comove. Imperdível!
A sinopse do filme pode afastar alguns propensos espectadores, por parecer melodramático ou baixo astral, mas o tratamento do diretor é extremamente eficiente, ao fugir dos lugares comuns, e transportar o espectador para o papel do personagem.
Reconheço que assisti ao filme por impulsão – da minha esposa, que mo indicou. Mas, já nas primeiras cenas, notei que estava vendo algo novo, e fui obrigado a ceder toda minha atenção à câmera magistral de Julian Schnabel.