Pela primeira vez na história do cinema brasileiro tivemos dois filmes distópicos de ficção-científica produzidos no intervalo de dois anos. O primeiro foi Divino Amor, de Gabriel Mascaro, realizado em 2019. O segundo, feito no ano seguinte, é este Medida Provisória, estreia na direção de longas do ator Lázaro Ramos. Mas antes veio a peça Namíbia, Não!, escrita por Aldri Anunciação e dirigida por Lázaro, em 2011. Então, nada mais natural que ele fizesse a adaptação do teatro para o cinema. O roteiro, do próprio diretor junto com Lusa Silvestre, nos leva a um futuro onde é aprovada no Brasil uma lei que obriga que os cidadãos de pele negra migrem de volta para a África e retomem suas reais origens. A ação tem como foco principal o núcleo composto por Capitu (Taís Araújo), médica casada com o advogado Antonio (Alfred Enoch). O casal divide o apartamento com o primo de Antonio, o jornalista André (Seu Jorge). Os três, à sua maneira, se levantam contra a nova legislação. Medida Provisória não é um filme perfeito. No entanto, e é importante frisar, a trama, apesar de distópica, toma por base a triste chaga do racismo estrutural. O cenário de intolerância cada vez maior que vigora hoje em diferentes partes do mundo faz dele um contundente grito de alerta. E isso torna esse primeiro longa de Lázaro Ramos uma obra de extrema necessidade.
MEDIDA PROVISÓRIA (Brasil 2020). Direção: Lázaro Ramos. Elenco: Taís Araújo, Alfred Enoch, Seu Jorge, Adriana Esteves, Pablo Sanábio, Mariana Xavier, Renata Sorrah, Flávio Bauraqui e Emicida. Duração: 103 minutos. Distribuição: Elo Company.