O cineasta pernambucano Marcelo Gomes tem uma filmografia marcada pela ousadia e pelo olhar diferenciado de situações conhecidas. E isso é evidente desde seus primeiros trabalhos, seja como roteirista, ao lado de Karim Aïnouz em Madame Satã, ou como diretor, em Cinema, Aspirinas e Urubus. Gomes é aquele tipo de artista que sempre foge do óbvio. Isso se comprova novamente em Joaquim, que ele escreveu e dirigiu em 2017. Somos apresentados aqui a Joaquim José da Silva Xavier (Júlio Machado, em interpretação visceral), tropeiro e dentista mineiro antes de se tornar a heróica figura histórica conhecida como Tiradentes. Joaquim é um filme que se passa no século XVIII, mas, estabelece um forte diálogo com o nosso presente. Não apenas pela postura inicialmente ingênua da personagem título, que sonha ver valer sua ascendência portuguesa para progredir na vida, como, principalmente, pela transformação sociopolítica que este homem pobre experimenta. Além disso, há também um forte subtexto feminista, na figura de Preta (Isabél Zuaa) e de outras mulheres, que pontua boa parte da história que Gomes nos conta. Sem esquecer a bela fotografia de Pierre de Kerchove, seca e poética a reforçar a proposta narrativa do diretor. Joaquim é um filme que incomoda por tocar em questões que mesmos passados mais de 200 anos continuam “atrasando” o progresso social do Brasil. Se o mundo fosse perfeito, Joaquim seria exibido e debatido nas escolas de ensino fundamental do país.
JOAQUIM (Brasil 2017). Direção: Marcelo Gomes. Elenco: Júlio Machado, Nuno Lopes, Rômulo Braga, Isabél Zuaa, Welket Bungué e Diogo Doria. Duração: 97 minutos. Distribuição: Imovision.