São poucos os cineastas que viraram adjetivo. O italiano Federico Fellini faz parte desse seleto clube. Ele vinha desfrutando enorme aclamação mundial por conta do sucesso de A Doce Vida quando enfrentou uma crise criativa para realizar sua obra seguinte. Terminou realizando um curta-metragem para o projeto Boccaccio ’70 antes de encarar seu desafio maior. Resultado de um momento bem particular na vida de qualquer artista, Fellini transformou seu bloqueio criativo em arte e nos brindou com 8 ½. O título remete diretamente à filmografia do diretor. Ele, até então, havia dirigido sete longas e um curta. O próximo seria, portanto, o “oitavo e meio”. A partir de uma história criada pelo próprio Fellini junto com Ennio Flaiano, o roteiro foi escrito pelos dois mais Tullio Pinelli e Brunello Rondi. A trama gira em torno de Guido Anselmi, vivido por Marcello Mastroianni (aqui mais alter-ego do diretor que o normal). Ele é um cineasta que se encontra sem inspiração alguma para realizar seu próximo filme. Para resolver o problema, ele tira férias e vai para uma estação termal. Lá, é assombrado por sonhos, recordações e personagens de suas obras. Falar de 8 ½ sem citar a palavra “genial” é algo impossível. Tudo, simplesmente tudo, funciona de maneira harmônica nesse filme que é autobiográfico em sua essência. Fellini usa o cinema para falar do processo de criação cinematográfico. Um exercício metalinguístico que tem um roteiro estupendo, um elenco fabuloso, uma fotografia deslumbrante, uma trilha sonora inesquecível e uma direção primorosa. Ficou claro ou será que eu preciso dizer que é imperdível?