O cineasta Christopher Nolan resgata em Dunkirk uma história esquecida da Segunda Guerra Mundial: a evacuação de Dunquerque, pequena cidade do litoral norte da França. A maioria dos filmes de guerra trata de ações das tropas americanas. A Operação Dínamo, que salvou a vida de mais de 300 mil soldados ingleses no período de 26 de maio a 04 de junho de 1940, é pouco conhecida. Nolan nos conta aqui uma passagem que muitos estudiosos consideram fundamental para a derrota dos nazistas cinco anos depois, uma vez que permitiu ao Exército britânico se recompor para enfrentar, junto com os Aliados, a Alemanha de Hitler. Primeiro filme de Nolan baseado em uma história real, Dunkirk já estava nos planos do diretor há algum tempo. E sua produção só foi possível por conta do enorme sucesso dos trabalhos do cineasta, em especial, a trilogia do Batman que ele realizou entre 2005 e 2012. Dois outros filmes com esse mesmo tema já haviam sido produzidos. Em 1958, na Inglaterra, O Drama de Dunquerque, dirigido por Leslie Norman; e em 1964, na França, Gloriosa Retirada, de Henri Verneuil. Nenhum deles, porém, possui o mesmo apuro técnico, força dramática, impacto visual e coesão narrativa que esta versão de Nolan tem. Dunkirk é estruturado em três linhas narrativas bem distintas e que, aos poucos se complementam. Temos uma semana na terra, um dia no mar e uma hora no ar. Explicando melhor: acompanhamos três grupos distintos ao mesmo tempo. O grupo maior está na praia, no “molhe” (um píer), à espera dos navios que virão resgatá-los. Um outro grupo está nos navios e um terceiro pilota aviões de combate. Encurralados pelo Exército alemão surge então a única saída possível para resgatar e salvar a vida dos soldados: utilizar os barcos dos moradores de Dover e outras cidades inglesas próximas para atravessar o Canal da Mancha até Dunquerque e auxiliar no resgate. Essa opção do diretor pode parecer confusa. No entanto, ela se revela bastante coerente com a proposta de nos colocar no meio daquela confusão toda. Essa sensação condiz com o que nos é mostrado. Da mesma forma que os soldados parecem perdidos, experimentamos o mesmo sentimento. Ao longo de sua filmografia, Nolan sempre trabalhou temas que lhe são caros. O mais recorrente desses temas discute uma questão bastante pertinente em qualquer situação: a ética. E ela está fortemente presente em Dunkirk. A frase do cartaz resume bem a essência do filme: “quando 400 mil homens não conseguiram chegar em casa, a casa foi até eles”. Dunkirk também não segue a cartilha tradicional de um filme de guerra. E não seria diferente em se tratando de um filme dirigido por Christopher Nolan. Há pouco sangue em cena. Apesar de ele existir, o foco aqui não é o horror da guerra. Nolan destaca o esforço de pessoas comuns que decidiram ajudar pessoas que estavam em perigo. É esse fator humano, tão característico de nossa natureza, e muitas vezes tão pouco utilizado, que fez a diferença em Dunquerque e faz a diferença neste emocionante filme. Ao contrário de Stanley Kubrick, por exemplo, Nolan ainda acredita no ser humano.
DUNKIRK (Dunkirk – EUA 2017). Direção: Christopher Nolan. Elenco: Fionn Whitehead, Damien Bonnard, Aneurin Barnard, James Bloor, Karry Keoghan, Mark Rylance, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Styles, James d’Arcy, Cillian Murphy, Kenneth Branagh e Tom Hardy. Duração: 106 minutos. Distribuição: Warner.