Em 1952, o cineasta japonês Akira Kurosawa realizou Viver, uma de suas mais belas e tocantes obras. O escritor Kazuo Ishiguro, que nasceu no Japão e vive na Inglaterra, acalentava o sonho de ver uma nova versão desse filme em inglês. Desde o início ele tinha o ator Bill Nighy em mente para o papel principal e certo dia, ao dividir um táxi com ele, falou sobre seu tão sonhado projeto. Nighy ainda não havia visto o filme de Kurosawa e assim que o viu aceitou o convite. Ishiguro escreveu a adaptação a partir do roteiro original de Shinobu Hashimoto, Hideo Oguni e Kurosawa, e a direção ficou com o sul-africano Oliver Hermanus. Viver, edição 2022, feito exatos 70 anos depois, segue a mesma estrutura do original. A única diferença é que a ação agora se passa em Londres no início da década de 1950. O senhor Williams (Nighy) é um viúvo que trabalha em um escritório do governo. A rotina burocrática dele e de seus colegas é bem pontuada no início da história. Até ele descobrir que está com um câncer em estágio avançado. Isso faz com que Williams se dê conta que efetivamente tinha uma vida vazia e decide dá um sentido à ela. É disso que trata Viver. O roteiro de Ishiguro pontua muito bem a trajetória de um homem em busca de redenção e a direção de Hermanus conduz a narrativa nas cores certas. O elenco de apoio é perfeito e funcional, mas é Bill Nighy quem brilha em um desempenho irretocável que inclui o uso da voz e da postura corporal, que se transformam ao longo do filme. Não por acaso recebeu uma justa indicação ao Oscar 2023 de melhor ator.
VIVER (Living – Inglaterra 2022). Direção: Oliver Hermanus. Elenco: Bill Nighy, Aimee Lou Wood, Alex Sharp, Adrian Rawlins, Oliver Chris, Michael Cochrane, Zoe Boyle, Tom Burke e Lia Williams. Duração: 102 minutos. Distribuição: BFI/Sony Classics.