Existem filmes que são concebidos tendo determinada atriz ou ator à frente do elenco. Nem sempre essa concepção original se concretiza. No caso de Tár, que o norte-americano Todd Field escreveu e dirigiu em 2022, desde o início ele foi pensado com Cate Blanchett no papel-título. Se ela não tivesse aceitado atuar aqui, esse terceiro longa de Field simplesmente não existiria. Tudo gira em torno de Lydia Tár (Blanchett), renomada maestrina e compositora. A primeira mulher a dirigir a Filarmônica de Berlim. Genial, temperamental e manipuladora, ela está no topo da carreira com a proximidade do lançamento de sua autobiografia e a realização de uma gravação ao vivo da Quinta Sinfonia de Gustav Mahler. Mas se as coisas estão bem profissionalmente, o mesmo não pode ser dito de sua vida pessoal. Em especial com a revelação de segredos de seu passado. Temos em Tár uma excepcional construção cinematográfica sobre a natureza do poder e os estragos que o exercício corrosivo dele podem causar. É possível separar o artista de sua obra? Lydia sempre buscou controlar tudo ao seu redor. Ainda mais por atuar em um espaço predominantemente masculino que reage, sempre que possível, e ferozmente, contra uma mulher tão poderosa no comando. Dizem que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. A narrativa de Field é segura e precisa. Como um verdadeiro maestro, ele conduz seu filme alternando momentos intensos com outros mais intensos ainda como se fosse uma sinfonia. Sempre no ritmo certo. E realmente, sem Cate Blanchett à frente do elenco, Tár seria outro. Ou melhor, não existiria mesmo. Em tempo: a obra recebeu seis indicações ao Oscar 2023 (montagem, fotografia, roteiro original, atriz, direção e filme).
TÁR (EUA 2022). Direção: Todd Field. Elenco: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Julian Glover, Allan Corduner, Sophie Kauer, Mila Bogojevic e Mark Strong. Duração: 158 minutos. Distribuição: Universal.