Dira Paes é realmente uma atriz fantástica. Não há papel que ela não represente. Seja uma indígena, uma religiosa, uma socialite, uma prostituta, uma diarista ou uma mulher sensual. Seja em uma comédia, um drama, uma aventura ou uma ficção-científica. Seja na televisão ou no cinema. Dira Paes enche a tela sempre que aparece e passa, acima de tudo, dignidade e verdade em seus trabalhos. Não é diferente em Pureza, de Renato Barbieri, autor também do roteiro, junto com Marcus Ligocki Júnior, que por sua vez se inspira livremente na história real da maranhense Pureza Lopes Loyola. Ela tem uma rotina das mais difíceis com seu filho Abel (Matheus Abreu) na região de Bacabal, no interior do Maranhão, onde fabrica tijolos. Certo dia, cansado daquela vida, Abel decide ir embora para tentar a sorte em um garimpo. Após meses sem notícias do filho, Pureza decide ir atrás dele iniciando assim uma jornada de três anos de buscas. Ao longo desse período, ela descobre e revela um cruel sistema de trabalho escravo no interior do Pará. Pureza é um filme com todos os elementos para cair na caricatura ou em infindáveis clichês melodramáticos ou até mesmo se tornar um panfleto “chapa branca” do Ministério Público do Trabalho. Não é isso o que acontece. A direção de Barbieri, humildemente, se volta para sua atriz e permite que ela, com incontestável talento e sinceridade, nos conduza pela corajosa trajetória dessa mãe que, ao sair de sua casa para procurar o filho, termina por expor uma abominação social que, infelizmente, ainda persiste em muitas partes do Brasil e do mundo. É esse caráter humano, que vemos na tela de maneira intensa, graças à interpretação precisa de Dira Paes, que faz de Pureza uma obra urgente e necessária.
PUREZA (Brasil 2022). Direção: Renato Barbieri. Elenco: Dira Paes, Flavio Bauraqui, Matheus Abreu, Mariana Nunes e Sérgio Sartorio. Duração: 101 minutos. Distribuição: Downtown Filmes.