A cineasta Joana Nin gosta de escolher temas inusitados para seus filmes. Foi assim na estreia, em 2005, com o curta Visita Íntima, que tratava de mulheres de presidiários. Oito anos depois veio o longa Cativas: Presas Pelo Coração, que ampliou o tema apresentado no trabalho inicial. Agora com Proibido Nascer no Paraíso, de 2019, ela nos leva até Fernando de Noronha e revela para nós uma situação dramática vivida pelas mulheres da ilha. Por mais surreal que pareça, desde 2004 não é permitido o nascimento de bebês naquele local paradisíaco. Joana acompanha três futuras mães que precisam se deslocar para o continente ao completarem sete meses de gestação. A maternidade do lugar não dispõe da estrutura adequada para realização dos partos. Ou seja, há quase duas décadas não nascem nativos em Fernando de Noronha. Mesmo se tratando do destino anual de cerca de cem mil turistas que movimentam a economia do arquipélago e geram riquezas capazes de permitir à região uma infraestrutura mínima e digna de saúde para seus moradores e, principalmente, suas moradoras, que sonham e desejam simplesmente que seus filhos nasçam perto de suas casas. Antes de torna-se cineasta, Joana trabalhou como jornalista e faz em Proibido Nascer no Paraíso uma investigação que vai muito além da aparente proposta original. A pauta, ou melhor, o roteiro, escrito pela própria diretora junto com Sandra Nodari e Julia Lea de Toledo, lida com uma questão básica e inerente ao ser humano, em geral, e à mulher, em particular: o direito sobre seu próprio corpo. E cabe ao poder público a garantia desse direito elementar.
PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO (Brasil 2020). Direção: Joana Nin. Documentário. Duração: 78 minutos. Distribuição: Boulevard/Globoplay.