Por mais paradoxal e improvável que pareça uma mistura entre Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa, é exatamente isso o que temos em O Samurai do Entardecer, dirigido por Yoji Yamada, em 2002. O clima intimista e familiar de Ozu encontra aqui a grandiosidade épica de Kurosawa em uma escala sutil, discreta e poética. Essa proeza é obra do profícuo roteirista e diretor japonês, que em pouco mais de 60 anos de carreira, escreveu mais de 130 roteiros e dirigiu mais de 90 filmes. Uma média pouco igualada por qualquer outro cineasta no mundo todo. O roteiro de O Samurai do Entardecer, escrito pelo próprio Yamada junto com Yoshitaka Asama, tem por base três romances de Shuhei Fujisawa e nos apresenta Seibei Iguchi (Hiroyuki Sanada), um samurai que cuida das duas filhas e de uma mãe senil após ficar viúvo. Ele reencontra Tomoe (Rie Miyazawa), seu amor de infância, recém-divorciada de um marido abusivo, que é derrotado por Seibei em um duelo. Isso faz com que o pacato empregado do clã Unasaka, chamado por todos na vila, de maneira pejorativa, pelo nome que dá título ao filme, ganhe fama e seja convocado para enfrentar um violento inimigo do soberano da região. O Samurai do Entardecer é, ao mesmo tempo, na melhor tradição cine teatral japonesa, um típico “chanbara” ao mostrar lutas de espadas, sem deixar de ser também um “jidaigeki”, ou seja, um drama de época. E Yoji Yamada demonstra domínio completo de sua narrativa e tem no ator Hiroyuki Sanada a encarnação perfeita de um homem essencialmente pacífico, honrado, amoroso e sábio.
O SAMURAI DO ENTARDECER (Tasogare Seibe – Japão 2002). Direção: Yoji Yamada. Elenco: Hiroyuki Sanada, Rie Miyazawa, Nenji Kobayashi, Ren Osugi, Mitsuru Fukikoshi, Kanako Fukaura, Erina Hashiguchi e Miki Ito. Duração: 129 minutos. Distribuição: Versátil.
