Poucos cineastas aplicaram a expressão “menos é mais” de maneira tão eficiente quanto Orson Welles. Ele, que contou com uma produção generosa e controle total apenas em Cidadão Kane, seu filme de estreia, viu, a partir daí, os estúdios se afastarem dele cada vez mais. Mesmo A Marca da Maldade, de 1958, só foi produzido pela Universal por pressão do astro Charlton Heston, que queria trabalhar com Welles. Seu filme seguinte, O Processo, veio a ser dirigido somente quatro anos depois, na Europa. Welles conseguiu ajuda de produtores franceses, alemães e italianos para bancar o baixo orçamento do novo projeto. Ele próprio adaptou a obra clássica do escritor tcheco Franz Kafka. O Processo conta a história de Josef K. (Anthony Perkins), um homem que certo dia acorda e percebe que a polícia está em seu quarto para prendê-lo. Josef K. está sendo investigado e é levado a julgamento por algo que ele próprio não faz a mínima ideia do que seja. Welles utiliza aqui, mais do que em seus outros filmes, a lições aprendidas com o Expressionismo Alemão. A construção dos cenários, a marcação dos atores, a iluminação, a magnífica fotografia em preto e branco e o posicionamento da câmara fazem desta obra uma das melhores, se não a melhor adaptação já feita de um texto kafkaniano. A introspecção característica de Kafka encontra a perfeição na grandiosidade das imagens de Welles. O Processo é um filme arrebatador.
O PROCESSO (Le Procès – França/Alemanha/Itália 1962). Direção: Orson Welles. Elenco: Anthony Perkins, Romy Schneider, Jeanne Moreau, Arnoldo Foà, Suzanne Flon, Michael Lonsdale e Orson Welles. Duração: 119 minutos. Distribuição: Versátil/Saraiva.