Francis Ford Coppola foi o primeiro cineasta americano formado em Cinema por uma universidade a obter sucesso como diretor. Ele começou trabalhando com Roger Corman, o grande mestre dos filmes de baixo orçamento, que produziu Demência 13. Inspirado pela Nouvelle Vague francesa, seu sonho era realizar filmes pequenos e autorais. Ao longo dos primeiros anos de sua carreira, este objetivo foi procurado em obras como Agora Você É Um Homem, O Caminho do Arco-Íris e Caminhos Mal Traçados. A saga da família Corleone, em 1972 e 1974, mudou tudo. Se bem que, entre as partes 1 e 2 de O Poderoso Chefão, ele dirigiu A Conversação, que era o tipo de filme que ele sonhava fazer. Aí surgiu o projeto Apocalypse Now e a vida de Coppola tomou um outro rumo inesperado. No início dos anos 1980 o cineasta decide voltar a experimentar. É quando ele produz e dirige O Fundo do Coração. O roteiro, escrito por ele próprio junto com Armyan Bernstein, acontece em um final de semana em que se comemora o Dia da Independência. Um casal, Hank (Frederic Forrest) e Frannie (Teri Garr), está em Las Vegas e constata que o casamento deles acabou. Durante aquele feriado eles buscam novas paixões e descobrem que elas são tão ilusórias quanto a cidade onde estão. O Fundo do Coração se tornou o maior fracasso de Coppola, provocando a falência de seu estúdio, o Zoetrope. Tanto de público como de crítica. O diretor, depois da intensa e conturbada produção de Apocalypse Now, rodado inteiro em locações nas Filipinas, queria agora ter controle absoluto. Para tanto, recriou Las Vegas dentro de um estúdio. Na verdade, O Fundo do Coração estava bem adiante de seu tempo. Ninguém o entendeu, mas, hoje, é possível perceber sua genialidade. Coppola queria “brincar” com a noção de realidade, e isso bem antes de Matrix. Além da beleza das imagens, fotografadas por Vittorio Storaro e Ronald Víctor García, temos ainda os cenários deslumbrantes e estilizados criados por Dean Tavoularis. E olha que eu nem falei da beleza estonteante de Nastassja Kinski e da trilha sonora embriagante composta por Tom Waits. Uma curiosidade: o casal que aparece no elevador é vivido por Carmine e Italia Coppola, pais do diretor.