O cineasta dinamarquês Lars von Trier é provocador por natureza. Isso vale para toda sua filmografia. Em especial, para Ninfomaníaca, que ele lançou em dois volumes em 2013. Uma das frases de divulgação já antecipava o que seria visto na tela: esqueça o amor. Concebido originalmente como um único filme, ou não, pelo menos é o que o diretor disse, a obra ficou longa demais e foi dividida em duas partes. O que dá para perceber é que essa parece ter sido a decisão de von Trier desde o começo. Afinal, os dois volumes seguem estruturas autônomas e, curiosamente, se aproximam e se afastam. O primeiro tem como foco maior Seligman, vivido pelo ator Stellan Skarsgard. Apesar das muitas cenas de sexo, o que prevalece é a postura racional dele sobre o assunto. Já no segundo, se concentra mais em Joe (Charlotte Gainsbourg), que é puro sexo. Temos aqui, portanto, dois elementos simbólicos fortíssimos sobre um tema que é constantemente encarado como tabu, seja na literatura, seja no cinema. E Seligman e Joe representam muito bem estes extremos: razão e ação. Von Trier transforma as cenas de sexo em uma verdadeira maratona de exercícios quase mecânicos. E de quebra, revela muito sobre a hipocrisia de uma sociedade alienada, mesquinha e conservadora. Como é comum em sua obra, o exagero é a forma que ele encontra para expor sua visão de mundo.