Os maliciosos poderão dizer que Náufrago é o maior comercial já feito em filme da FedEx, empresa de entrega de encomendas. Em termos cinematográficos, se trata de uma obra ousada e original, que só foi realizada por causa da dupla Robert Zemeckis (diretor) e Tom Hanks (ator), a mesma de Forrest Gump. A trama gira em torno de Chuck Noland (Hanks), um dedicado, até demais, funcionário da FedEx. Sua vida pessoal é um caos. Por causa do trabalho, ele nunca tem tempo para coisa alguma. Incluindo sua namorada, Kelly (Helen Hunt). Tudo muda após um acidente aéreo onde ele é o único sobrevivente. Agora, sozinho em uma ilha deserta, tempo é o que não lhe falta. O roteiro de William Broyles Jr. guarda semelhanças com o clássico da literatura Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, mas, sem a personagem do Sexta-feira, aqui substituído por uma bola. A produção de Náufrago foi das mais complexas. Primeiro, Zemeckis filmou o início da história até o acidente e as primeiras semanas de Chuck na ilha. Depois, houve um intervalo de um ano nas filmagens. Período necessário para que Hanks perdesse peso e se condicionasse fisicamente para parecer alguém que ficou quatro anos à base de peixe e coco. Em uma indústria feroz e imediatista como a hollywoodiana, é quase inacreditável a realização de um filme assim. Zemeckis, um diretor apaixonado por desafios tecnológicos, cria uma das mais belas elipses do cinema a partir da tentativa de extração de um dente e, na sequência, nos presenteia com 80 minutos de pura magia e coragem ao tirar qualquer trilha sonora e mostrar apenas um ator em cena contracenando com uma bola e com os ruídos naturais da ilha. Uma curiosidade: existe mesmo uma marca Wilson de artigos esportivos, no entanto, a escolha foi uma brincadeira com o sobrenome da esposa de Hanks, a atriz Rita Wilson.