Quando Auguste e Louis Lumière fizeram a primeira exibição pública de um filme, no histórico dia 28 de dezembro de 1895, eles defendiam o cinema como uma maneira de retratar a realidade. Na cabeça dos irmãos franceses essa era a principal finalidade daquela que alguns anos depois seria chamada de “sétima arte”. Outros artistas como Alice Guy Blaché e Georges Méliès perceberam que aquela novidade poderia também contar histórias. Curiosamente, os cinemas de ficção e documental nasceram juntos. Ao longo das décadas seguintes ao seu nascimento das imagens em movimento, muitas obras documentais e ficcionais foram feitas e Nanook, o Esquimó, de 1922, dirigido por Robert J. Flaherty, tornou-se o primeiro grande documentário da história e um dos mais populares e influentes do cinema. Flaherty acompanhou durante um ano a rotina de Nanook e sua família na região da Baía de Hudson, no norte gelado do Canadá. O mundo viu deslumbrado um dia a dia completamente desconhecido. Pessoas com um único e básico objetivo: encontrar comida. Alheios às facilidades que temos no chamado “mundo moderno”, o cotidiano de Nanook deixou as plateias inteiras onde era exibido simplesmente maravilhadas. Vale destacar o esforço do diretor em mostrar algo pouco conhecido, quase inédito. Nesse quesito, o filme é muito bem-sucedido. No entanto, é bom frisar, qualquer obra, seja documentário ou não, sempre retratará o recorte ou olhar de seu realizador. E no caso de Nanook, que teve seus negativos queimados e precisou ser refeito, essa escolha do que mostrar se revelou primordial. O que, em hipótese alguma, é demérito para essa obra fundamental da história do cinema e do século XX.
NANOOK, O ESQUIMÓ (Nanook of the North – EUA/França 1922). Direção: Robert J. Flaherty. Documentário. Duração: 78 minutos. Distribuição: MUBI.