Alguns filmes precisam ser vistos mais de uma vez. É o caso de Lincoln, dirigido por Steven Spielberg e com Daniel Day-Lewis no papel-título. Não se trata de um filme perfeito. Pelo contrário. Existem muitas falhas, seqüências desnecessárias e imprecisão histórica. Porém, ao fazer seu recorte, Spielberg propõe um debate e consegue “fugir” um pouco dos maneirismos sentimentais que vinha utilizando em seus trabalhos. O roteiro de Tony Kushner, inspirado no livro de Doris Kearns Goodwin, aborda um período de pouco mais de cinco meses na vida do 16º presidente americano. E se concentra, principalmente, no mês de janeiro de 1865, quando houve um grande esforço de Lincoln, no início de seu segundo mandato, para aprovar a 13ª Emenda, que visava abolir a escravidão nos Estados Unidos. Corrupção, compra de votos, troca de favores e outros artifícios que achamos serem comuns apenas no Brasil, foram utilizados nessa operação. Com isso, o presidente também esperava acabar com a Guerra de Secessão e unir novamente o país. Lincoln, repito, é um filme que precisa ser visto mais de uma vez. Alguns poderão achá-lo arrastado e enfadonho. Seu foco maior está nos diálogos. E eles são muitos. E são ótimos. Além disso, temos mais de cem personagens em cena com fala. Isso exige uma atenção redobrada por parte do espectador. Spielberg acalentava dirigir um filme sobre um dos mais queridos presidentes americanos há bastante tempo. Day-Lewis foi sua escolha original. No início, ele recusou o papel, que durante algum tempo ficou com Liam Neeson. O tempo passou e o projeto ficou parado. Quando a produção foi retomada, o diretor conseguiu convencer Day-Lewis, que se transformou em Abraham Lincoln. Sua interpretação é tão rica em detalhes que deixa a impressão, ou melhor, a certeza, que Lincoln andava daquele jeito, olhava daquele jeito e falava daquele jeito. É preciso também fazer justiça aos outros atores do elenco. Nesse quesito, Lincoln é intocável. Bem como na parte técnica. Não por acaso, das 12 indicações ao Oscar que o filme recebeu, ganhou em apenas duas: ator e direção de arte.