Pode uma obra literária publicada em 1839 continuar tão atual? No caso do filme Ilusões Perdidas, dirigido em 2021 pelo cineasta francês Xavier Giannoli, a partir do clássico romance de Honoré de Balzac, a sensação de estarmos diante de algo tão presente em nosso cotidiano é mais do que palpável. É real. O próprio diretor, junto com Jacques Fieschi, adaptou o roteiro que acompanha a trajetória de Lucien (Benjamin Voisin), um jovem poeta francês que sai de casa no campo e se muda para Paris, onde espera viver de amor e de sua arte. O amor, no caso, se encontra em sua amante Louise (Cécile de France), uma nobre casada que se torna sua mecenas. Quanto à arte, temos o livro de poemas que ele sonha ver impresso. Porém, a dura realidade que insiste em lembrá-lo continuamente de sua origem pobre, faz com que Lucien abrace o trabalho de jornalista para sobreviver. Ilusões Perdidas nos apresenta um painel cruel da imprensa e de pessoas ligadas à produção artística que vive de manipular informações e carreiras. Isso tudo aliado a uma burguesia fútil e apoiadora de um governo que almeja o autoritarismo. A história se passa na primeira metade do século XIX, cerca de 200 anos atrás. Porém, parece que se inspira nas notícias veiculadas nas diversas mídias do nosso tempo presente. Vencedor de sete prêmios César, o mais importante do cinema francês, Ilusões Perdidas é contundente, reflexivo, intenso, envolvente e de impressionante atualidade. Em uma palavra: filmaço.
ILUSÕES PERDIDAS (Illusions Perdues – França 2021). Direção: Xavier Giannoli. Elenco: Benjamin Voisin, Cécile de France, Vincent Lacoste, Xavier Dolan, Jeanne Balibar, André Marcon e Gérard Depardieu. Duração: 150 minutos. Distribuição: Califórnia Filmes.