O cineasta canadense David Cronenberg não dirigia um longa-metragem desde 2014, quando realizou Mapas Para as Estrelas. Durante esse período trabalhou como ator em séries de TV, como Star Trek: Discovery, e também em alguns curtas e telefilmes. O roteiro, do próprio Cronenberg, se passa em um futuro não definido onde os seres humanos precisam se adaptar a um ambiente cada vez mais sintético. Isso gera diferentes entendimentos dessa nova realidade. De um lado, temos aqueles que veem no chamado “trans-humanismo” um potencial ilimitado de evolução. Outros simplesmente tentam vigiá-lo e policiá-lo. No meio disso tudo somos apresentados ao casal Saul (Viggo Mortensen) e Caprice (Léa Seydoux), mundialmente conhecidos por suas apresentações performáticas. Há, na mesma medida, a figura de Timlin (Kristen Stewart), uma investigadora que quer que o mundo conheça as consequências dessas estranhas experiências. Cronenberg faz Crimes do Futuro uma espécie de síntese de sua filmografia. Muitos dos elementos vistos em suas obras anteriores estão presentes aqui. Em especial, a obsessão do diretor com o corpo humano, o sexo e a medicina. Não por acaso, a frase do cartaz do filme é “cirurgia é o novo sexo”. Provocador, esse projeto vinha sendo desenvolvido desde 2002, quando se chamava Painkillers (em bom português, analgésicos), e quase chegou às telas estrelado por Nicolas Cage. Curiosamente, em 1970, ele dirigiu um longa com esse mesmo título, mas com uma premissa bastante diferente.
CRIMES DO FUTURO (Crimes of the Future – Canadá/Inglaterra/Grécia 2022). Direção: David Cronenberg. Elenco: Viggo Mortensen, Léa Seydoux, Kristen Stewart, Scott Speedman, Welket Bungué, Don McKellar, Tanaya Beatty e Nadia Litz. Duração: 107 minutos. Distribuição: O2 Play/MUBI.