O cineasta paulista Beto Brant descobriu o amor. Ele, que começou carreira dirigindo dramas envolvendo policiais e criminosos, aos poucos, foi mudando o foco de suas histórias. Cão Sem Dono, realizado em 2007, parte do romance Até o Dia em Que o Cão Morreu, do gaúcho Daniel Galera. O roteiro, escrito a seis mãos, foi adaptado pelo próprio Brant, junto com Marçal Aquino (seu colaborador mais constante) e Roberto Ciasca (seu produtor e aqui também codiretor). A história acontece em Porto Alegre e gira em torno de Ciro (Júlio Andrade) e Marcela (Tainá Müller). Ele, recém-formado em Literatura. Ela, uma modelo ambiciosa em começo de carreira. Ciro enfrenta uma crise existencial. Não acredita em nada e também não planeja nada. Marcela, obcecada com o trabalho, vai empurrando seus projetos para depois. Cão Sem Dono traça um painel a partir desse relacionamento amoroso, um instantâneo do comportamento de toda uma geração. É interessante perceber que Brant vai se despojando de truques cinematográficos mais elaborados. Seu cinema vem se despindo visualmente e assumindo uma postura mais simples, direta, mínima. O que interessa ao diretor são as personagens e aqui, é visível e sensível a entrega de Júlio Andrade e Tainá Müller aos seus papéis. Brant descobriu o amor, ou melhor, um tipo de amor. E chegou à maturidade artística cada vez mais dono de um estilo bem pessoal.