O sueco Roy Andersson trabalha com audiovisual desde 1967. Isso faz dele um dos cineastas de seu país há mais tempo na ativa. Dono de um estilo narrativo bastante singular e original, Andersson vem criando uma filmografia marcada pelo niilismo, ou seja, que nega ou questiona o valor, sentido e propósito da vida, da verdade, enfim, da existência. Canções do Segundo Andar, o sexto longa que ele escreveu e dirigiu, resume a temática niilista tão recorrente em sua obra. Tudo se passa em uma cidade onde diferentes personagens levam vidas monótonas que beiram o surreal. Na abertura vemos a frase “bendito seja aquele que se senta”, do poeta peruano César Vallejo, que será citada em alguns momentos do filme. De imediato temos uma forte sensação de estranhamento por conta da paleta de cores, dos cenários grandiosos e da enorme profundidade além, óbvio, da pesada maquiagem do elenco, composto inteiro por homens e mulheres bem comuns nos figurinos e formas físicas. Essas pessoas parecem carregar o peso do mundo em suas costas. E esse peso é dolorosamente visível em seus rostos e na forma como andam. Parecem seres que já morreram, afinal, em certa altura alguém diz que é difícil ser humano. Há humor aqui, mas não é aquele tipo de humor fácil. Ele surge do absurdo das situações. Em uma delas, um jovem supostamente enlouquece por ter se dedicado à poesia. Em outra, vemos o elenco inteiro cantando uma opereta. Andersson nos convida para uma viagem por um mundo estranho, porém, fascinante e bem inquietante. E isso é muito bom. Em tempo: Canções do Segundo Andar recebeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2000.
CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR (Sanger fran Andra Vaningen – Suécia 2000). Direção: Roy Andersson. Elenco: Lars Nordh, Stefan Larsson, Bengt C.W. Carlsson, Hanna Eriksson, Sten Andersson, Torbjorn Fahlstrom e Peter Roth. Duração: 98 minutos. Distribuição: Curzon Film/Canal+/MUBI.