Acompanhar a jornada de personagens ao longo de uma série de filmes não é novidade no cinema. Vide os exemplos de Antoine Doinel (Os Incompreendidos, Beijos Proibidos, Domicílio Conjugal e O Amor em Fuga); Michael Corleone (trilogia O Poderoso Chefão), Rocky Balboa (série Rocky) e os casais Jesse e Celine (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite) e Marianne e Johan (Cenas de Um Casamento e Saraband). O que destaca de maneira muito especial o trabalho do diretor americano Richard Linklater em Boyhood: Da Infância à Juventude, é o fato inédito de acompanhar o crescimento de um garoto dos seis aos 18 anos. O roteiro do próprio diretor tem como foco um período de 12 anos na vida de Mason, vivido pelo menino/adolescente/jovem Ellar Coltrane entre maio de 2002 e agosto de 2013. O interessante nesta história é perceber a formação da personalidade de um ser humano e também constatar as mudanças tecnológicas e comportamentais ocorridas neste intervalo de tempo. Qualquer projeto, seja ele qual for, desenvolvido ao longo de um período superior a dez anos, tem, desde seu início, uma grande chance de enfrentar problemas de percurso. Coltrane, então uma criança, poderia ter mudado de plano durante o extenso prazo de filmagens previsto. Pior, poderia ter se tornado um jovem bem diferente daquele que o diretor tinha em mente quando escreveu o primeiro esboço do roteiro. Felizmente, tudo deu certo no final. Além de Coltrane, Boyhood exigiu um grande comprometimento dos atores Ethan Hawke e Patricia Arquette, que interpretam os pais de Mason. Bem como da própria filha do diretor, Lolerai Linklater, que vive Samantha, a irmã mais velha do garoto. Como bem resumiu o crítico mineiro Pablo Villaça, Boyhood é “um road movie da vida”. Ganhador de diversos prêmios pelo mundo, era o grande favorito ao Oscar de 2015. Terminou levando apenas um, de melhor atriz coadjuvante para Patricia Arquette.