O paulista Walter Hugo Khouri é um dos cineastas mais importantes e autorais surgidos no cinema brasileiro na década de 1960. Ao longo de pouco mais de 40 anos de carreira e 25 longas, ele, que muitas vezes foi comparado ao italiano Michelangelo Antonioni, construiu uma sólida filmografia que, infelizmente, não tem recebido o devido cuidado e reconhecimento. As Amorosas, de 1968, é mais uma prova do talento de Khouri para lidar com questões existencialistas. Aqui, somos apresentados a Marcelo (Paulo José), um homem na casa dos 20 anos e completamente perdido. Essa sensação experimentada por ele já fica óbvia em sua primeira aparição. Paulo José vinha do sucesso de Todas as Mulheres do Mundo, feito dois anos antes por Domingos de Oliveira, e mais uma vez nos surpreende com sua precisa interpretação ao demonstrar toda a insatisfação do personagem. Marcelo aparenta ter tido uma boa formação, porém vive da ajuda financeira da irmã Lena (Lilian Lemmertz), mora de favor na casa de amigos e se envolve ao mesmo tempo com duas mulheres. Uma delas, Marta (Jacqueline Myrna), trabalha na televisão e isso nos leva aos bastidores da TV da época. Há também uma participação especial de Rita Lee quando fazia parte dos Mutantes. As Amorosas tem forte caráter experimental e nos revela a São Paulo de meados dos anos 1960. Apesar de alguns diálogos soarem pomposos e vazios, não há como negar a coragem do roteirista/diretor em abordar certos temas. Ainda mais se levarmos em conta o período em que o filme foi realizado. Em tempo: essa foi a primeira aparição de Marcelo, alterego de Khouri. Segundo Donny Correia, o maior especialista na obra do cineasta que eu conheço, ele voltaria a aparecer em outras nove obras: O Último Êxtase, O Desejo, Paixão e Sombras, O Prisioneiro do Sexo, O Convite ao Prazer, Eros, Eu, Forever e Paixão Perdida.
AS AMOROSAS (Brasil 1968). Direção: Walter Hugo Khouri. Elenco: Paulo José, Jacqueline Myrna, Lilian Lemmertz, Stenio Garcia, Anecy Rocha e Newton Prado. Duração: 100 minutos. Distribuição: Columbia.