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A VIAGEM DE PEDRO

A roteirista, produtora e diretora paulista Laís Bodanzky se envolveu com cinema em 1994, quando dirigiu o curta-metragem Cartão Vermelho. Seis anos depois veio a estreia em longas com o aclamado Bicho de Sete Cabeças. Ao longo das duas décadas seguintes, a cineasta dirigiu outros quatro filmes. A Viagem de Pedro, de 2021, é o quinto deles. Seus trabalhos costumam lidar com dramas familiares e, de uma certa forma, essa obra mais recente não deixa de tratar um pouco desse tema recorrente na filmografia de Bodanzky. A abordagem é bem intimista e toma como foco um período pouco conhecido, e consequentemente, pouco documentado, da vida de Dom Pedro I, vivido aqui por Cauã Reymond. A história é centrada na viagem que o primeiro imperador brasileiro fez de volta à Portugal no ano de 1831. A quase totalidade da narrativa se concentra dentro do navio inglês Warspite. Trata-se de um momento bastante delicado para Pedro, após sua abdicação ao trono do Brasil. A razão do retorno à Lisboa é lutar contra o irmão Miguel pelo trono de sua terra natal. Aquele tempo dentro da nau em alto mar permite que o monarca reflita sobre sua vida e escolhas. Lembranças da infância reforçam esse caráter reflexivo. Há também um problema, digamos assim, orgânico, que ele enfrenta, bem como seu papel na história, retratada em uma bela e sutil rima visual envolvendo uma estátua. Bodanzky não se furta a inserir questões atuais como diversidade, racismo estrutural, empoderamento feminino e masculinidade tóxica. Retrata também um Pedro multifacetado e tem em Cauã Reymond um ator que sabe tirar proveito dessa complexidade. Há um subtexto bem interessante relacionado à figura de Leopoldina. Fica evidente que ela, efetivamente, foi a grande estrategista da independência do Brasil. Falando nesse assunto, é curioso comparar as duas maiores obras do cinema brasileiro que tratam dessa icônica personagem. Separados por exatos 50 anos, Temos o Pedro de Reymond e o Pedro de Tarcísio Meira, mostrado em Independência ou Morte, de 1972, lançado no auge do regime militar. A visão de Laís Bodanzky é mais ousada, autoral e, sem exagero algum, mais verdadeira.

A VIAGEM DE PEDRO (Brasil 2021). Direção: Laís Bodanzky. Elenco: Cauã Reymond, Vitória Garcia, Rita Wainer, Luise Heyer, Francis Magee, João Lagarto, Luísa Cruz, Isac Graça e Isabél Zuaa e Gustavo Machado. Duração: 96 minutos. Distribuição: Vitrine Filmes.

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