O argentino Pablo Trapero é um dos mais ativos cineastas de sua geração e vem construindo uma sólida e coerente filmografia. Leonera, feito em 2008, seu sexto longa, comprova seu talento para contar histórias que fogem do lugar-comum. O roteiro, escrito pelo próprio diretor ao lado de Alejandro Fadel, Santiago Mitre e Martín Mauregui, gira em torno de Julia (Martina Gusmán). Certo dia, ela acorda ao lado de dois corpos cobertos de sangue. Um deles é de seu companheiro, Nahuel, que está morto. O outro é de Ramiro (Rodrigo Santoro), que ainda vive. Por estar grávida, Julia é enviada para uma penitenciária especial onde as mães presas têm seus filhos e cuidam deles até uma certa idade. Leonera aborda um tema dos mais complexos, mas evita todos os clichês que costumam envolver tramas similares. Além disso, não se furta a escancarar as falhas de um judiciário alheio a questões pragmáticas de um processo que, sejamos sinceros, não se sustenta. A maneira como Trapero estrutura sua narrativa, aliado a um trabalho impecável da direção de arte, sem esquecer do estupendo desempenho de Martina Gusmán e do elenco de apoio, composto em sua maioria por detentas reais, me remeteu ao melhor da escola neorrealista italiana. E os coadjuvantes profissionais não ficam atrás, com destaque para Rodrigo Santoro, Elli Medeiros (mãe de Julia) e a estreante Laura Garcia (Marta, companheira de prisão). Enfim, uma obra contundente e carregada de emoção, esperança, amizade e amor. Mesmo que tudo isso surja no mais inusitado dos lugares.
LEONERA (Argentina/Brasil/Coréia do Sul/Espanha 2008). Direção: Pablo Trapero. Elenco: Martina Gusmán, Elli Medeiros, Rodrigo Santoro, Laura Garcia e Roberto Maciel. Duração: 113 minutos. Distribuição: Buena Vista.