Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, é considerada por muitos a maior história-em-quadrinhos de todos os tempos. A adaptação cinematográfica desta obra colossal passou pelas mãos de diversos diretores, entre eles, Terry Gilliam. Terminou sendo entregue a Zack Snyder, graças à fama obtida por ele com a versão para cinema da HQ 300, de Frank Miller. Watchmen parte de uma premissa bem interessante: como seria nosso mundo se existissem homens encapuzados que combatessem o crime? A trama acontece em um 1985 alternativo, onde os americanos venceram a guerra do Vietnã, não houve o escândalo de Watergate e Richard Nixon está em seu quinto mandato como presidente dos Estados Unidos. Watchmen é uma obra complexa e sua adaptação, já era esperado, não seria das mais fáceis. Neste ponto, o roteiro escrito pela dupla David Hayter e Alex Tse se revela fiel, respeitoso e transgressor ao mesmo tempo. Alguns pequenos ajustes tiveram que ser feitos. O maior deles, a mudança do final da história, que, me perdoe o Alan Moore, funciona melhor no filme que nos quadrinhos. Snyder tem um senso visual apurado e fez de Watchmen um deleite para os nossos sentidos. Só não foi muito feliz na escolha das músicas. Com exceção de The Times They Are A-Changing, de Bob Dylan e que toca na bela e concisa abertura, as demais se revelam, em sua maioria, inadequadas. O elenco não compromete e possui três grandes destaques: Jackie Earle Haley (Rorschach), Jeffrey Dean Morgan (Comediante) e Billy Crudup (Dr. Manhattan). Os cenários e os figurinos são deslumbrantes e a parte técnica é das mais eficientes. Saldo final extremamente positivo para uma trama que muitos consideravam impossível de ser adaptada corretamente. Até Moore ficaria orgulhoso, mesmo que ele nunca admita isso. Em tempo, existem três versões do filme: a que foi exibida nos cinemas, uma outra com cenas adicionais e uma terceira (não lançada no Brasil) que contém a animação dos Contos do Cargueiro Negro integrada à narrativa, que saiu por aqui em uma edição separada.
WATCHMEN: O FILME (Watchmen – EUA 2009). Direção: Zack Snyder. Elenco: Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley, Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson, Malin Akerman, Carla Gugino, Matt Frewer, Stephen McHattie e Laura Mennell. Duração: 162 minutos. Distribuição: Paramount.
Respostas de 7
A sugestão é ler o HQ e ver o filme. Watchmen divide águas nos quadrinhos e traz um bom programa no cinema.
Um filme correto. Friamente correto. Uma obra menor (!) daquele que é meu atual diretor contemporâneo predileto.
Os créditos iniciais para mim são insuperáveis… melhor momento do filme!
Infelizmente, o final do filme é totalmente inadequado.
Ozimandias é retratado como um vilão, quando na verdade ele é um anti-herói; ele é retratado como um homossexual e pedófilo, quando ele é uma pessoa angustiada e, aparentemente, assexuada. Todas as demais adaptações são aceitáveis, mas mudar o caráter de Ozimandias torna o filme uma simples – e absurdamente longa – versão cinematográfica de um gibi de super-heróis. A cena de espancamento gratuito de Ozimandias pelo Coruja na Antártica evidencia bastante bem essa superficialidade da versão cinematográfica.
Entretanto, a história trata no fundo do drama pessoal e coletivo que se apresenta a qualquer um que queira ser um “herói”: combater no atacado a irracionalidade política e social (Ozimandias, potencialmente Dr. Manhattan) ou no varejo os criminosos pequenos e os mafiosos (Comediante, Coruja, Rorschach)? Qual o tipo humano que surge e que se desenvolve quando alguém vira “herói”? Qual o tipo de sociedade que surge e que se desenvolve com os heróis?
Concordo, ou reconheço, que os atores que interpretam Dr. Manhattan, Rorschach e Comediante são aceitáveis, mas os que interpretam Silk Specter, Ozimandias e Coruja caracterizam-se por suas nulidades. Pode-se argumentar que isso seria aceitável para o Coruja , mas a Silk Specter exigiria alguém mais bonita; já Ozimandias exigiria alguém mais robusto e com aparência menos mesquinha.
Em suma: nem os roteiristas nem o diretor souberam lidar direito com o filme.
Gustavo, concordo com você em relação ao tratamento que foi dado ao Ozymandias no filme. Creio que aí pesou bastante a decisão do diretor, que já havia demonstrado uma tendência homofóbica em seus filmes anteriores. Característica que ficou bem evidente aqui. Não sei se você reparou, quando o Rorschach abre o micro dele na empresa, uma das pastas de arquivos que aparece na tela tem o título “boys”. Quanto ao Coruja e à Espectral, achei os dois ok. Poderiam ter ficado melhores? Claro que sim, mas não me incomodaram muito. No entanto, temos que admitir, qualquer que fosse a adaptação de uma obra com esta seria muito complicada e geraria muita polêmica. Mas, apesar de tudo, vejo o saldo final como positivo. Você já viu a versão ultimate? Apesar de bem mais longa, quase 4 horas, ela flui bem melhor. O ideal teria sido uma minissérie especial da HBO ou da AMC, em 12 capítulos.
Marden: reparei, sim, na pasta “Boys”. Desnecessário e desagradável isso. Acho que as mudanças no Ozymandias foram o principal problema na adaptação para o cinema desse gibi.
Enfim, não estava sabendo que há uma versão longuíssima do filme… se você afirma que vale a pena, darei uma olhada!
OPAZ, kurti os quadrinhos, fiquei com medo de ir ao cinema e sair decepcionado, mas gostei do filme também e agora vou procurar essa versão com os contos do cargueiro negro… SUPER DIKA! VALEUZ!
JOPZ