O cinema, em sua essência, é uma arte experimental. E, mais do que isso, é uma arte que sempre experimentou novas técnicas e narrativas. O flerte com as artes gráficas é antigo e vem desde Georges Méliès, que fez o primeiro filme de ficção-científica da história, A Viagem à Lua, em 1902. Ao longo de todo o Século XX, o cinema utilizou como inspiração direta, ou mesmo indireta, diversos movimentos artísticos. Do expressionismo alemão ao surrealismo chegando até a pop art e adaptações de histórias em quadrinhos. O namoro do cinema com as HQs ficou mais sério a partir de 2005, quando o cineasta Robert Rodriguez provou para o autor de quadrinhos Frank Miller que era possível adaptar com fidelidade sua obra Sin City para o cinema. Sin City trouxe a sensação real de acompanharmos uma HQ em tamanho gigante. Ang Lee já havia tentado isso com seu filme do Hulk, mas o filme de Robert Rodriguez e Frank Miller foi bem mais radical. Para transportar para a telona o universo em preto-e-branco criado no papel, Rodriguez desenvolveu uma nova técnica. Sin City teve um processo de captura de imagem inteiramente digital e utilizou câmaras de alta definição. A crítica, na época, batizou Sin City de filme neo-noir. O curioso é que quando Frank Miller concebeu sua série de histórias sobre a Cidade do Pecado sua principal inspiração foram os filmes noir da década de 1940. O cinema inspirou a HQ que inspirou o cinema que depois inspirou novamente a HQ. Os experimentos de Rodriguez e Miller em Sin City sofreram uma radicalização maior ainda em 2006, quando Zack Snyder dirigiu 300, mais um filme inspirado em uma obra criada por Frank Miller. Desta vez, Miller não se envolveu no projeto, mas, o aprovou desde o início. Sin City foi radical, porém, talvez o fato de ser em preto-e-branco tenha “facilitado”, se podemos dizer assim, a experiência visual. 300 foi mais longe ao utilizar as mesmas cores fortes dos quadrinhos e transformar em realidade a sensação de “ler” uma HQ em tamanho ampliado. O roteiro, adaptado por Snyder junto com Kurt Johnstad e Michael B. Gordon, nos conta a histórica luta de 300 espartanos liderados por Leônidas (Gerard Butler), contra o gigantesco exército de Xerxes (Rodrigo Santoro), na famosa batalha de Termópilas. Snyder reproduz em 300, o filme, a mesma sensação da leitura da HQ de mesmo nome. Violento, sangrento e carregado de muita testosterona, como diria Leônidas: “Isso é Esparta!”.
300 (300 – EUA 2006). Direção: Zack Snyder. Elenco: Gerard Butler, Dominic West, Lena Headey, Michael Fassbender, David Wenham, Vincent Regan e Rodrigo Santoro. Duração: 117 minutos. Distribuição: Warner.