Milton Nascimento, nos versos iniciais de Canção da América, canta que “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração”. Jodie Foster é amiga de Mel Gibson desde 1994, quando fizeram o par central de Maverick, de Richard Donner. Em 2011, ela dirigiu e voltou a atuar ao lado de Gibson em Um Novo Despertar. O ator enfrentava um processo que seria chamado hoje de “cancelamento”, em decorrência de denúncias de agressão movidas por sua namorada na época. O roteiro original de Kyle Killen nos apresenta Walter Black (Gibson), presidente de uma fábrica de brinquedos que sofre de depressão. Isso o afasta cada vez mais de Meredith (Foster), sua esposa, e de seus filhos Porter (Anton Yelchin) e Henry (Riley Thomas Stewart). Certo dia, ele encontra no lixo um castor (daí o título original) de pelúcia e o coloca em uma das mãos. Isso faz com que ele volte a interagir com as outras pessoas, só que “falando” por meio do fantoche, o que gera uma intensa crise de identidade. Um Novo Despertar é um filme estranho, no bom sentido. Foster, que estava há 16 anos sem dirigir um longa, teve que se impor para manter o final do jeito previsto pelo roteiro, algo que os executivos do estúdio não queriam. Ainda bem, pois assim o fechamento ficou bem mais coerente com o arco dramático de Walter Black. E Mel Gibson tem aqui um de seus melhores desempenhos. Amigo é realmente “coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito”.
UM NOVO DESPERTAR (The Beaver – EUA 2011). Direção: Jodie Foster. Elenco: Mel Gibson, Jodie Foster, Anton Yelchin, Jennifer Lawrence, Cherry Jones, Riley Thomas Stewart e Zachary Booth. Duração: 91 minutos. Distribuição: Paris Filmes.