Nem sempre assistimos a um filme por sua qualidade ou méritos. Um filme, às vezes, é tão ruim que chega a divertir tanto quanto um filme bem feito. Um ator incapaz, diálogos mal construídos, um diretor que não sabe para onde quer levar a história, falhas técnicas, trilha sonora irritante, um roteiro sem pé nem cabeça. Todos são fatores que sozinhos podem levar um filme a ser tão absurdo que só resta a você rir para aguentar assisti-lo até o final. Existe um filme que agrega todos esses fatores em pouco mais de 90 minutos: The Room, de 2003. Escrito, produzido, dirigido e estrelado por Tommy Wiseau com um orçamento de seis milhões de dólares, é o exemplo perfeito de um drama que deu errado. A história é simples. Johnny (Wiseau) é o cara perfeito. Amigo de todos, tem um bom emprego, uma noiva, Lisa (Juliette Dannielle), por quem é perdidamente apaixonado, e um melhor amigo, Mark (Greg Sestero), com quem sempre pode contar. Mas por mais carinhoso e dedicado que Johnny seja, Lisa está cansada do relacionamento. Há poucos meses de se casar ela está insatisfeita, acha Johnny muito entediante, o que faz com que ela vá atrás de Mark, começando assim um triângulo amoroso que acaba muito mal. Como um filme com uma história tão simples conseguiu dar tão errado? Seria o sotaque e falta de habilidade tanto em atuação como direção e roteiro de Wiseau? Uma trilha sonora de arranhar os dentes? As câmeras que saem de foco? Personagens e subtramas que simplesmente desaparecem ao longo do filme? Embora The Room não agrade à maioria das pessoas, o filme possui seu charme e se tornou um sucesso cult. Ainda hoje, mais de 20 anos desde seu lançamento, é exibido regularmente nos cinemas de várias cidades norte-americanas. O criador dessa “obra-prima” tenta ao máximo defender que a trama é intencionalmente cômica. Não é. E é justamente essa a qualidade de The Room. Wiseau almejou dirigir um grande clássico, um filme emocionante para entrar para a história e fazer as pessoas chorarem com seu final trágico. Você vê claramente que Wiseau e Johnny são a mesma pessoa, e que ele sofreu muito com um relacionamento ruim. Mas é impossível não rir de tantas cenas exageradas e mal feitas. Se você só gosta de filmes bons e que façam sentido fuja de The Room. Se procura por algo onde podemos tirar sarro de tudo o que aparece na tela sem piedade, este é o seu filme. Em 2017 o ator James Franco dirigiu Artista do Desastre, versão ficcionada da produção de The Room, baseada no livro de Greg Sestero. Em tempo: esta resenha foi escrita em parceria com meu filho Lucas.
THE ROOM (EUA 2003). Direção: Tommy Wiseau. Elenco: Tommy Wiseau, Juliette Danielle, Greg Sestero, Philip Haldiman, Carolyn Minnott, Robyn Paris e Greg Ellery. Duração: 99 minutos. Distribuição: Wiseau Films.