Não sei se este será o último do cineasta quebequense Denys Arcand. Mas se for, o título Testamento é mais do que adequado. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Arcand desenvolveu uma rica filmografia com obras que possuem uma marca bastante pessoal ao apresentar sempre sutis críticas sociais. Ao lado de David Cronenberg, e mais tarde de Denis Villeneuve, ele é responsável por tornar conhecido e respeitado o cinema canadense. Testamento acompanha a rotina do senhor Bouchard (Rémy Girard), arquivista aposentado que mora em um lar de idosos gerido pelo rigorosa Suzanne (Sophie Lorain). A tranquilidade do local é quebrada quando um grupo de jovens ativistas passam a protestar em frente à instituição por conta de um mural considerado injusto para com os povos originários. O olhar arguto do diretor nos conduz por uma narrativa que parece bem simples à primeira vista, mas que vai se revelando rica à medida que suas muitas camadas são descascadas. Há também nos filmes de Arcand um forte caráter humanista ressaltado sempre com fina ironia. A personagem interpretada por Rémy Girard, espécie de alterego do diretor, reflete sobre as escolhas que fez ao longo da vida e questiona se tomou mesmo as melhores decisões. Para ele, assim como para nós, surge a pergunta: será que ainda podemos mudar o rumo das coisas? Testamento oferece algumas respostas.
TESTAMENTO (Testament – Canadá 2023). Direção: Denys Arcand. Elenco: Rémy Girard, Sophie Lorain, Marie-Mai, Guylaine Tremblay, Caroline Neron, Alexandra McDonald, Alex Rice e Charlotte Aubin. Duração: 115 minutos. Distribuição: Imovision.