A maioria das pessoas costuma associar histórias em quadrinhos com tirinhas cômicas ou aventuras de super-heróis. Desconhecem a diversidade narrativa dos gibis que servem, além dos conhecidos exemplos já citados, para contar dramas humanos e históricos de grande impacto. E quando a inspiração vem da própria vida do autor, o caráter pessoal reforça ainda mais a dramaticidade dos eventos narrados. É o caso de Persépolis, criada inicialmente como HQ, no ano 2000, pela iraniana radicada na França Marjane Satrapi. A adaptação para o cinema veio sete anos depois, feita pelo diretor Vincent Paronnaud, junto com a própria autora, ambos também responsáveis pelo roteiro. Acompanhamos o relato autobiográfico de Satrapi a partir de sua infância, quando o Irã estava sob o comando do Xá Reza Pahlavi. Depois, foi a vez da revolução religiosa e cultural promovida pelo Aiatolá Khomeini e drásticas mudanças que a levaram a se mudar para a Europa. Mais tarde, ela retorna ao seu país para então se fixar na França. Persépolis acompanha todo esse processo de transformação de Marji e do Irã ao longo de quase três décadas. O olhar que nos guia é o de uma espectadora crítica, privilegiada e que não faz uso de maniqueísmos. Há aqui um resgate histórico, e ao mesmo tempo sentimental, de uma cultura milenar. O filme, assim como o material original, utilizam o humor como um dos fios condutores para analisar os fatos vividos por Marji em sua terra natal e fora dela. Questões políticas, familiares, religiosas, culturais e de direitos humanos pontuam por inteiro esta bela e tocante animação de gente grande.
PERSÉPOLIS (Persepolis – França 2007). Direção: Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi. Animação. Duração: 96 minutos. Distribuição: Europa Filmes.