“Até onde eu consigo lembrar, eu sempre quis ser um gangster”. Esta frase dita pela personagem de Henry Hill (Ray Liotta), abre Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese. E sintetiza perfeitamente a essência do filme. Trata-se de uma história real, que deu origem a um livro, escrito por Nicholas Pileggi, que por sua vez virou um roteiro de cinema, adaptado pelo próprio autor junto com Scorsese. A trama tem início ainda nos anos 1950 e mostra o jovem Hill começando a trabalhar para a máfia. Ele se torna grande amigo de James Conway (Robert De Niro) e de Tommy DeVito (Joe Pesci). Acompanhamos a rotina dos três e a ascensão de Hill dentro da organização. Scorsese sabe onde está “pisando”. Ele disse, repetidas vezes, que quando era criança e morava na bairro de Little Italy, em Nova York, existiam apenas duas possibilidades de futuro: se tornar um mafioso ou um padre. Felizmente, ele encontrou uma terceira alternativa: se tornou cineasta. O lançamento de Os Bons Companheiros coincidiu com o de O Poderoso Chefão – Parte III, de Francis Ford Coppola. Claro que muitas comparações foram feitas. Na prática, uma grande perda de tempo. Apesar deles terem a máfia como tema, as abordagens são bem distintas. Enquanto a família Corleone segue uma linha mais “idealizada” e “romântica”, os mafiosos de Scorsese estão mais próximos do nosso cotidiano. No entanto, algo os aproximou naquele ano de 1990. Os dois filmes não tiveram uma boa acolhida. Nem do público, nem da crítica. Outra perda de tempo. Ambos são ótimos. Os Bons Companheiros teve seus méritos e sua grandiosidade reconhecidos pouco tempo depois. O mesmo não aconteceu com o filme de Coppola, que virou, injustamente, o “patinho feio” da trilogia. Com sua narração em off e estrutura não-linear, Scorsese conduz sua trama de maneira seca, direta, sem enrolações. Seu filme é violento, cru e visceral. Algo próximo, creio eu, de um soco no estômago. Preste atenção em dois momentos: 1) quando Tommy conta uma piada no bar e Henry diz que ele é engraçado (funny how?); e 2) quando Henry leva sua namorada, Karen (Lorraine Bracco) até o Copacabana (um belo plano-sequência com a parte instrumental de Layla, de Eric Clapton, tocando ao fundo). Os Bons Companheiros recebeu seis indicações ao Oscar e ganhou apenas uma: melhor ator coadjuvante para Joe Pesci. Uma curiosidade: a mãe de Tommy no filme é, na vida real, Catherine Scorsese, a mãe do diretor.
OS BONS COMPANHEIROS (Goodfellas – EUA 1990). Direção: Martin Scorsese. Elenco: Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Lorraine Bracco, Paul Sorvino, Frank Sivero, Tony Darrow, Mike Starr, Frank Vincent e Chuck Low. Duração: 146 minutos. Distribuição: Warner.
Uma resposta
A sequência na cozinha, com a mãe de Scorcese, é sensacional! Filme para ver e rever e limpar o sangue ao terminar cada sessão! PS: Não gostaria – sob nenhuma hipótese – de encontrar o Tommy DeVito em um bar!