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CINEMARDEN VAI AO OSCAR

O PAÍS DE SÃO SARUÊ

Existem trilogias que são pensadas como trilogias. Existem outras que começam sem essa pretensão e se transformam em trilogias. E existe também o que costumo chamar de trilogias involuntárias, que são aquelas que possuem filmes feitos por diferentes diretores, em diferentes épocas e sem conexão alguma, mas que dialogam entre si. A sensação que tive ao ver o filme O País de São Saruê, do paraibano Vladimir Carvalho, foi a de que estava diante de mais uma trilogia involuntária formada por ele ao lado dos clássicos Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho. O documentário de Carvalho, realizado entre 1966 e 1971, é seu longa de estreia e se inspira no cordel Viagem ao País de São Saruê, de seu conterrâneo Manoel Camilo dos Santos, que diz em um de seus versos “Avistei uma cidade como nunca vi igual, toda coberta de ouro e forrada de cristal, ali não existe pobre, é tudo rico em geral”. Versos utópicos mas que casam à perfeição com o foco aqui, que trata da relação entre o homem do campo e a natureza do sertão nordestino. Mas Vladimir Carvalho vai além ao mostrar a luta de um povo sofrido e humilhado por ricos exploradores donos de latifúndios. Porém, apesar da triste realidade mostrada, é visível e tocante a maneira como o cineasta retrata o homem comum e seu apego à tradição, à memória e à preservação da terra e seus costumes. Uma realidade que, infelizmente, mesmo passados mais de meio século, não mudou. O País de São Saruê foi proibido pela ditadura militar e só veio a ser liberado em 1979. Tornou-se, com todos os méritos, um dos maiores registros documentais do cinema nacional, sem contar ter sido o primeiro trabalho de Walter Carvalho, um dos maiores fotógrafos cinematográficos do Brasil, que atuou como assistente de direção de seu irmão mais velho. Por fim, algumas curiosidades que reforçam a trilogia involuntária citada no início dessa resenha: Vladimir Carvalho foi colega de faculdade de Glauber Rocha e foi assistente de direção de Eduardo Coutinho em Cabra Marcado Para Morrer, que teve sua produção iniciada em 1962 e finalizada somente 20 anos depois.

O PAÍS DE SÃO SARUÊ (Brasil 1971). Direção: Vladimir Carvalho. Documentário. Duração: 83 minutos. Distribuição: VideoFilmes.

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