Imagine um filme que tem como herói um cavaleiro da Ku Klux Klan, branco e todo de branco, que salva a mocinha do perigoso escravo negro. Aos olhos de hoje, em um mundo cheio de correção política, O Nascimento de Uma Nação seria massacrado por conta de seu teor racista. Quando de seu lançamento, em 1915, o filme escrito, produzido e dirigido por David Wark Griffth, causou muita polêmica. Baseado no livro The Clansman, de Thomas F. Dixon Jr., adaptado por Griffith e Frank E. Woods, a obra conta a saga de duas famílias, uma do norte e outra do sul dos Estados Unidos, em meio à guerra civil americana. Após a derrota do sul, é a Ku Klux Klan que restaura a ordem política e o modo de vida da região. Griffith vinha de uma bem sucedida carreira como diretor de documentários e de curtas, tendo realizado mais de 450 filmes no período de 1908 a 1913. Após assistir à super produção italiana Cabíria, dirigida por Giovanni Pastrone em 1914, Griffith decidiu assumir o desafio de realizar a primeira grande obra do cinema americano. A um custo de pouco mais de 100 mil dólares, valor astronômico para a época, além da duração de cerca de três horas, O Nascimento de Uma Nação estabeleceu as bases da linguagem cinematográfica como a conhecemos. A utilização de closes (plano fechados ou de detalhes), flashbacks (lembranças de algo acontecimento no passado), a montagem paralela (alternância de duas ou mais linhas de ação) e alguns movimentos de câmara (como o travelling, por exemplo, quando a câmara “se move” em cima de um carrinho sobre trilhos) aparecem aqui pela primeira vez. Essa combinação inédita e criativa foi usada para contar uma história e criar tensão e suspense de maneira harmoniosa e orgânica. O Nascimento de Uma Nação é um filme fundamental na história da sétima arte, pois, definiu a base narrativa do cinema americano e mundial e influenciou toda uma geração de novos e importantes cineastas. Entre eles, o russo Sergei Eisenstein, que na década seguinte revolucionaria a montagem com O Encouraçado Potemkin.