Sem exagero algum posso afirmar que o cineasta japonês Ryusuke Hamaguchi é um dos maiores de sua geração e um dos grandes mestres da cinematografia de seu país. Com pouco mais de duas décadas de carreira ele vem consolidando sua genialidade a cada novo trabalho. Após ganhar em 2022 o Oscar de melhor filme internacional com Drive My Car, ele nos presenteia agora com este O Mal Não Existe. O roteiro, do próprio Hamaguchi, segue fiel ao seu estilo bastante pessoal de contar histórias sem pressa alguma e utilizando planos longos com câmera parada com foco nas personagens e seus diálogos bem construídos. A partir da bela sequência de abertura fica evidente o convite do diretor para entrarmos na vila de Mizubiki, na região do Tóquio, onde vivem Takumi (Hitoshi Omika) e sua filha Hana (Ryo Nishikawa). A vida lá é pacata e integrada à natureza. A chegada de representantes de uma companhia que planeja construir um acampamento de luxo no lugar altera por inteiro a rotina de seus moradores. Especialmente a de Takumi e Hana. O Mal Não Existe é uma obra que apresenta muitas camadas. Cada uma delas mais rica e complexa que a outra. Hamaguchi trabalha como poucos a subjetividade e o extracampo, ou seja, aquilo que não vemos de maneira explícita mas se faz presente o tempo todo. E nesse quesito específico, o título do filme é extremamente sutil.
O MAL NÃO EXISTE (Aku Wa Sonzai Shinai – Japão 2023). Direção: Ryusuke Hamaguchi. Elenco: Hitoshi Omika, Ryo Nishikawa, Ryuji Kosaka, Ayaka Shibutani e Hazuki Kikuchi. Duração: 106 minutos. Distribuição: Imovision.