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O HOMEM QUE COPIAVA

Certa vez, o roteirista e diretor gaúcho Jorge Furtado comentou com um de seus amigos sobre o filme que estava escrevendo e que se chamaria O Homem Que Copiava. O amigo dele caiu na gargalhada e disse: Então o filme é autobiográfico! Quem acompanha a carreira de Jorge Furtado sabe que ele desenvolveu um jeito peculiar e bastante pessoal de contar histórias. Ele próprio costuma se apresentar como um roteirista que dirige. Seus filmes são carregados de colagens, recortes, citações e referências metalingüísticas. Em O Homem Que Copiava acompanhamos o dia-a-dia de André (Lázaro Ramos), um operador de fotocopiadora que trabalha em uma papelaria de Porto Alegre. O filme começa com uma cena forte. Mostra André queimando dinheiro. Logo em seguida, o mesmo André aparece juntando moedas para pagar uma conta pequena de supermercado. Ele é possuidor de uma cultura fragmentada. O conhecimento que ele tem do mundo vem das leituras que ele faz das folhas que fotocopia. Mais ou menos como muitos de nós que passamos de uma página para outra na internet, lendo pedaços e sem nos aprofundarmos em nada. André é apaixonado por Sílvia (Leandra Leal), que mora no prédio em frente ao seu. Um amor à distância. Ele a observa com binóculos e a segue todos os dias. Uma série de eventos termina por levá-los, junto com o casal Marinês (Luana Piovani) e Cardoso (Pedro Cardoso) a uma reviravolta completa que envolve a falsificação de dinheiro, um assalto a banco, um prêmio de loteria e dois assassinatos. Furtado faz uso de diversas técnicas narrativas, algumas delas até auto-referentes, pois remetem ao mais famoso curta-metragem que ele dirigiu, o Ilha das Flores. Muitos questionaram na época a moral dúbia do filme. Polêmicas à parte, O Homem Que Copiava é, por mais paradoxal que pareça, extremamente original.
O HOMEM QUE COPIAVA (Brasil 2003). Direção: Jorge Furtado. Elenco: Lázaro Ramos, Leandra Leal, Pedro Cardoso, Luana Piovani, Carlos Cunha, Júlio Andrade e Paulo José. Duração: 123 minutos. Distribuição: Columbia.

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Respostas de 5

  1. Jorge Furtado faz o que eu chamo de “cinema de autor para um grande público”. Acessível e interessante, sempre, tem nessa obra o acréscimo da qualidade técnica. O cinema brasieliro continua carente nesse nicho de cinema, tão abundante nos EUA, na Inglaterra, na Espanha e na França.

  2. Essa idéia de ” cinema de autor para o grande público” é algo que eu gosto muito e que é também muito frequente no Japão, porque a delicada relação grandes estúdios-diretores é um pouco diferente da hollywoodiana. Quando vi o filme pela primeira vez, achei a idéia de colocar a fotocopiadora como tema central do filme muito inusitada porque o estudo no Brasil, como um todo, e o acadêmico, em particular, necessitam das cópias de livros e capítulos de livros mais do que do ar. Muito além das questões ético/comerciais, há a necessidade real de “copiar”, porque os livros são muito caros e os acadêmicos não conseguem comprá-los.

  3. Faço coro com o Douglas Machado, tb acho o melhor do Jorge Furtado. Acho que ele se destaca mais pela sua escrita do que pela direção, mas de qualquer forma, é um dos grandes do cinema nacional de hoje em dia.

    E gostei desse paralelo da leitura de fragmentos que o André faz, com a nossa mania de ler muito em pouco tempo!

    abraços

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