A maior parte da produção cinematográfica brasileira continua restrita ao eixo Rio-São Paulo. No entanto, os focos de criatividade e originalidade vêm surgindo em outras regiões, principalmente o nordeste, que conta com três fortes pólos de produção: Ceará, Pernambuco e Bahia. O cearense Karim Aïnouz talvez seja o grande mentor dessa “nouvelle vague nordestina”. Dono de um estilo seco, direto, quase documental, ele não foge ao próprio padrão em O Céu de Suely, seu segundo longa. Aïnouz iniciou sua carreira ainda nos anos 1990, quando realizou dois curtas, Seams e Paixão Nacional. A estréia em longas acontece em 2002, com Madame Satã. Em O Céu de Suely acompanhamos o retorno de Hermila (Hermila Guedes) a Iguatu, no sertão cearense, depois de uma temporada de dois anos em São Paulo. Ela volta com o filho pequeno e espera pelo marido, que prometeu voltar também. O reencontro com a família, as amigas e com João (João Miguel), o antigo namorado, deixa claro que ela não pertence mais aquele lugar. A partir de conversas com Georgina (Georgina Castro), ela adota o nome de Suely e resolve rifar o próprio corpo para levantar o dinheiro necessário e ir embora outra vez. A atriz pernambucana Hermila Guedes vinha de uma pequena participação em Cinema, Aspirinas e Urubus e revela-se aqui como uma grande protagonista. Aïnouz deixa claro seu carinho para com as personagens neste filme meio road movie, meio viagem interior. O Céu de Suely fala de sonhos e esperanças de maneira pragmática, sem fantasias e questionamentos morais. Uma curiosidade: o diretor costuma “batizar” as personagens com o mesmo nome dos atores.
O CÉU DE SUELY (Brasil 2006). Direção: Karim Aïnouz. Elenco: Hermila Guedes, Georgina Castro, Maria Menezes, João Miguel, Zezita Matos, Mateus Alves, Gerkson Carlos, Marcélia Cartaxo e Flávio Bauraqui. Duração: 88 minutos. Distribuição: VideoFilmes.
Respostas de 3
Aqui estamos, diante do céu de Karim Aïnouz, diante do céu do melhor da cinematografia brasileira desta geração. Karim conhece cinema para quem o cinema existe como autoria. Bravo!
Apesar de admirar o trabalho de Lázaro Ramos em Madame Satã, esse filme me desagradou bastante, o que fez meio reticente em relação ao trabalho de Karim Ainouz… até assistir a Céu de Suely, exemplar perfeito de que o bom cinema nacional está praticamente em todos os lugares.
Quero ver, também.