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O AUTO DA COMPADECIDA 2

Em 1955, o escritor paraibano Ariano Suassuna escreveu a peça teatral Auto da Compadecida, que a partir do ano seguinte teve inúmeras encenações e três adaptações cinematográficas: em 1969, 1987 e 1999. Esta última saiu primeiro em formato de minissérie de TV e em 2000 foi remontada para o cinema. Muitos defendem tratar-se da melhor versão já feita da obra para o audiovisual. Então, 25 anos depois temos este O Auto da Compadecida 2, continuação inesperada que nos leva de volta à pequena cidade de Taperoá, onde reencontramos a dupla João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello). Projetos desse porte costumam levantar questões sobre a necessidade ou não de existirem. Uma vez que o material original conta uma história fechada, por que uma sequência? No meu entender, não vejo problema algum em contar novas aventuras de figuras tão queridas da literatura, do teatro e do cinema. Mas é preciso respeitar algumas regras quando se decide voltar ao universo dessas personagens. Em muitos aspectos, O Auto da Compadecida 2 funciona a contento. Afinal, a sensação inicial que tive foi a de rever velhos amigos. E isso é muito bom. O roteiro escrito pelo próprio Arraes, ao lado do casal João e Adriana Falcão, respeita a essência da obra de Suassuna. Estamos agora cerca de duas décadas após os eventos do primeiro filme. João Grilo reaparece em Taperoá e descobre que Chicó conta a história de seu encontro com Nossa Senhora como um grande e milagroso feito. Grilo é visto como um herói e isso chama a atenção de Arlindo (Eduardo Sterblitch), empresário e dono da rádio local, e do coronel Ernani (Humberto Martins). Eles disputam a prefeitura e querem tirar proveito da popularidade de João Grilo para vencer a eleição. Esse fator político, mais sutil na obra original, aparece agora de maneira explícita e faz com que O Auto 2 dialogue com os dias atuais. Isso não é de todo ruim. Assim como muitas das novas situações e personagens apresentadas que funcionam satisfatoriamente. Mas algo muito me incomodou, e talvez não incomode a maioria dos espectadores: a excessiva artificialidade que o filme tem. Inteiramente rodado em estúdio, a luminosidade e o calor típicos do Nordeste brasileiro não se fazem presentes. Sem contar que algumas cenas do filme de 2000 são meio que refeitas com pequenas alterações. E, como não poderia deixar de ser, temos um forte apelo à nossa memória afetiva. Em resumo, O Auto da Compadecida 2 traz todos os elementos para fazer dele mais um grande sucesso do cinema brasileiro. Que assim seja.

O AUTO DA COMPADECIDA 2 (Brasil 2024). Direção: Guel Arraes e Flávia Lacerda. Elenco: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Virgínia Cavendish, Luís Miranda, Taís Araújo, Eduardo Sterblitch, Humberto Martins, Fabíula Nascimento e Enrique Díaz. Duração: 114 minutos. Distribuição: H2O Films.

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